Acarreto uma lombalgia do raio da breca. Coisa feia, mesmo. Pareço um amontoado de ossos e carne (não retirando a gordura) desconchavados. Meio ferrugento! Percorro o espaço do meu trabalho com alguma parcimónia de movimentos. Mas obviamente existem sempre irregularidades no caminho que a cada pincho não deixo de praguejar uns “ais” e uns “uís”. O piso até é bom. Só que o equilíbrio já não é o mesmo. Já percorri milhares de milhares de quilómetros em quase 30 anos de estaca aqui e pára ali, para entregar o seu a seu dono... Hoje por cá ando, porque amo a minha profissão sem qualquer tipo de estigma ou vergonha. Sinto – me tão útil como um Advogado; um Doutor; um Engenheiro – menos daquele que se formou ao domingo – … um Arquitecto e sei lá quantas outras profissões. Mas existe uma que na área em que eu resido potência mais apego a determinadas conjunturas das artes acabadas em “…eiro”: - Pasteleiro; cabeleireiro, pedreiro; empreiteiro; barbeiro, azeiteiro, em suma “n” exemplos como por exemplo: - sucateiro. Nesse ocaso, sou um felizardo, para além de fazer territorialmente parte da Universidade da nossa paróquia, resido numa rua: Lomba da Aboreira – “enclave” da Freguesia de Santo André – que me dá o privilégio de desfrutar com dois vizinhos genuínos e galhardamente empreendedores no ofício. Um a dias de se mudar para a Zona Industrial e o outro com umas instalações - que nem vos conto nem vos digo - mas posso acrescentar que é do melhorzinho que tenho visto. Parece um espaço esterilizado imune a moscas e melgas. Vejam lá que até sineta para toque de entrada, hora de almoço, entrada após o café e de saída possui. Confesso que no inicio da minha permanência neste “enclave” pensava que era o edifício da Universidade a regimentar os passos dos seus alunos. Mas não. Era, e é, o toque para impulsionar a entrada dos seus trabalhadores, os quais dão tudo pelo seu patrão pelo trato que recebem dele. Sem desprestígio ou intuito de o ofender considero o Senhor o "Mourinho dos Sucateiros" de Portugal pela sua “a descoberta guiada” que é a máxima que o dito treinador mais ênfase dá nos seus treinos ou jogos. E que o seu “delfim” André Villas Boas, bisneto do 1º visconde de Guidhomil denomina “periodização táctica”. Ou seja, em primeiro o Homem e o seu bem-estar, depois as divisões das suas tarefas para o bem comum, de todos. Sei isto do Senhor porque falo quase diariamente com os seus empregados. Assim como sei aquilo do Mourinho e do André porque admiro gente inovadora e com confiança ilimitada nas suas potencialidades. Registe – se aqui que não andei ou mandei batedores para coscuvilhar a vida dos senhores treinadores do futebol, simplesmente li vários livros sobre ambos. Agora sei que na “minha sucata” a sua dinâmica de trabalho está com o futuro assegurado porque os seus filhos sabem engrandecer os cabelos brancos do seu pai. Existem momentos bons e maus na vida mas existe sempre algo que nos corrige para melhor. Uma vez em conversa com o saudoso e querido amigo Rui Manuel, ele confidenciou – me: - “… sabes Jorge o homem tem um coração do tamanho do mundo, é um bom patrão, como é amigo do seu amigo… muita gente tem dele uma imagem errada. Mas ele ajuda muita gente…” Vi -os de minha casa muitas vezes na galhofa… e confesso que tenho saudades desses episódios. Tal era a cumplicidade entre ambos.Isto para dizer que existem bons sucateiros em V.N. Poiares. “A terra que tem mais Mercedes por metro quadrado em Portugal”. Dizia a Revista Visão numa das suas edições. Ora ai está! Conheço um “maquinismo ferruginoso ” algures num planeta que tem imensos funcionários; colaboradores e até adoptados, que dizem o piorio do seu patrono, mas tipo gato melado não param de lhe polir as botas. Que não querendo ser adivinho lá para 2013 – aqui, dou o exemplo do gato porque há muito boa gente que vê no treze: desgraça - serão os primeiros a contar lengalengas; provérbios; anedotas e afins, sobre a historia, na ânsia de continuarem a mamar. Puro engano. Triste fim. A “continuação” está a ser programada. Mas olhem que não… os Cidadãos livres e Independentes, vão determinar o desfecho para que tal organismo ajuste “a descoberta guiada”.
Jorge Gonçalves