Se hoje morre-se.
Ou fosse morto.
Porque o óbito mata a vida
Não queria sentir no meu silêncio
E frio do meu corpo nu.
Eu nasci desnudado.
E despido quero abalar.
Os passos da minha soror.
Não queria nem por sombras
Que depois da minha cinza
O vento e a brisa da manhã
Sentisse um quente suor
Que fizesse tremular
Uma lágrima minha
Que delata – se…
Uma cavada mágoa e vergonha.
Quero ouvir na voz do meu filho Tiago
“ De que cor é o vento!"
Enquanto não arder
Quero perscrutar
Nos olhos dos meus filhos orgulho
Mesmo no que neguei.
Fruto de um instinto e pouca racionalidade.
Eu sempre me dei bem com a verdade
Mesmo nos erros e omissões
Sem as denunciar em confissões
Mesmo quando era crente.
Agora que não creio em nada
Porque os católicos metem – me nojo
Vão há missa para lavar os pecados
E regressam dela…
Aptos a lá aparecerem sujos doutros mais
E numa roda-viva vivem nesta lavagem
Até se confundirem entre os animais!
Creio em algo que me transcende.
Recuso – me ter nascido só para morrer
Mas existe um rumo um caminho
Que eu jamais…
Doarei por nada
Sem comungar dele:
- A liberdade.
Não quero lá sentir o “umzinho”
Um pérfido déspota sem moral
Que se endeusou com a idade
Num poder gerado na ilusão da mentira
Eu morrerei a bem e sozinho
Desde que a sua doutrina
Se lembre como uma esquina
Que se dobrou
E que jaz num beco defunto
E depois desapareceu
Como se fosse o diabo que a levou.
Quando me matarem
Porque os dias contam para isso
Não deixem nem palha nem aresta
Por remexer nos meus papeis
Lá estão coisas que se espiam pela fresta
Como um casamento exige anéis.
Quem não se prepara para morrer
Nunca vive… nunca sente esse sorriso
É o mesmo que me julgarem
Sem ter um púlpito pró meu comício.
A morte fascina – me. E faz me perceber
A quanto a vida é justa. E a natureza é perfeita.
Algo me diz que vou expirar
Essa advertência está dentro de mim
Pertence – me. É uma epopeia
Que não sei explicar
Finjo que ao estar nessa odisseia
O faço sem que nada que diga: fim!
Quero ter uma assistência
… Reduzida proficiente e selecta.
Não quero lá cheirar o mofo dos protegidos
Quero que todos façam uma colecta
Para doar aos desprotegidos.
Existe muita lágrima que se vai chorar
Sem que seja justa ou sentida
São os objectores de consciência
No polígrafo da verdade invertida.
Sei que vou morrer
Não que me vá matar nem nada que o pareça
A natureza o fará ou alguém por ela o ditará
Desculpem – me a liberdade de a amar também
Amo ter nascido sem o pedir
Amo a vida que vou vivendo
Amo o seu caminho que vou fazendo
Amo o seu silêncio e ruído. Ámen.
Direi apenas que também
Sou gente e não serei ninguém
Fui Alguém!
Só morre para sempre: quem é cobarde
E não ama loucamente a liberdade!
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