“Eu sou lindo.
Eu sou belo.
Eu vou indo
Com um pé descalço
Outro com um chinelo!
Tenho que caminhar sorrindo.
Repenicar o nariz, armar o cabelo.
E a escoicinhar e bramir vou fingindo
Que sou sadio. Como fava com farelo.”
“Eu como e não pago ninharia
Falo ao mesmo tempo que mastigo
Ninguém me contradiz
Tão pouco desdiz
Seja de noite ou de dia.
Levanto o dedo
Ficam todos de castigo
Cochicham: o que é que fiz?
- Porque sim… Eu quero… Por medo
Metam todos, já o dedo no nariz.”
Quem manda pode. Quem pode manda.
É como o palhaço de um circo. O pobre.
Que leva dois estalos. Rodopia de banda
E pede mais de joelhos julgando-se nobre.
Veste de bem… Uniformiza-se melhor… Usa fraque…
Escuta Camané. Bebe café. Enamora-se com o fado
Tenta fungar um poema… de desvelo dá um “traque”
Ajeitando o atilho da camisa com ar de um ignorado.
ALBERTO DE CANAVEZES