Hoje tenho uma necessidade premente de escrever. Desmesuradamente… sem fronteiras mas de memórias repletas. … Apetece-me refugiar entre palavras. Escarnecer de mim e fugir do mundo. Reafirmando não ter jeito para fazer de contas. Estou triste. Muito triste, mesmo. Acabo de perder alguém que esteve sempre perto de mim – da minha formatura civil – mas que a “porcaria” da política ia copiosamente separando de “nós”. Um episódio embaraçoso, menos conseguido das nossas vidas. Vai mais cedo de que eu, para o Terreno mais Sagrado das Lavegadas. O mesmo que nos Ia rasurando uma amizade de “séculos”. Não sou nenhum alienado nem deslumbrado. Mas a vida tem que ser vivida pragmaticamente. A Morte é uma circunstância da vida, sem dúvidas nenhumas. Mas tenho dificuldade, imensa dificuldade, em entender a sua presença em corpos demasiadamente novos e “impreparados”. Era tão novo. Tão cheio de vida, que a vida foi severamente madrasta para ele. Para os seus filhos: Nuno; Loide e Timóteo. Para a sua família, pela qual admiro e venero a sua aliança com Jesus. Todas as quintas-feiras da “minha juventude” lia à minha Prima Maria Augusta (sua Mãe) a Bíblia, “o seu” Livro Sagrado. Depois de ser um hábito, começava sempre com o Salmo do Bom Pastor. Rejubilava de alegria… Salve as suas almas.
Eu hoje tenho a noção que perdi um Homem deveras importante para a minha idiossincrasia como ser humano... Sem piedosas intenções. Independentemente, do que a vida me outorgar, “detenho” a sua “comemoração” descrita num livro (há já bastante tempo) ao qual doei um título demorado e insinuante: “O primo António um Dom Juan. Um romântico de bigode em pontas. Conquistador inato, bajulador perpétuo”. Não sei se alguma vez terá algum leitor. Mas existe e está guardado no meu baú de lembranças.
Vivemos juntos, enormidades possíveis e impossíveis. Demos de nós o tempero adequado às nossas vidas. Criamos cenas e peliculas do mais cinematográfico .
O que vivemos juntos davam inúmeras vidas para serem preenchidas, mas hoje só me resta, curvar sobre a sua pessoa, reflectir a vida e reorganizar empreendimentos. Sem dúvida nenhuma.
A propósito. Um dia, apercebi-me, que o meu Pai estava doente (teria ele, setenta e poucos anos) quando me deparei com tal “tormenta”, comecei a chorar, apercebendo-se da minha lamúria, chamou-me e disse-me: - Jó, porque estas a chorar!? Quando eu morrer, não quero grandes choros. Tem pena é de quem morre no seu caminho, sem cair de maduro. Eu vou cair de maduro. Guarda as lágrimas para esses.
O meu saudoso e amado pai morreu com 92 anos. O quanto eu neste ano e meio o entendo e o percebo. Obrigado Pai.
Prima Lélia. Primo António. A Paz de Jesus vos abrace, na Sua Bênção. Eterna saudade.
De um ser humano imperfeito, que na essência dos seus sentimentos, não os omite nem esquece. Eu sou assim. Simplesmente isso. Eu em mim.
Jorge Gonçalves