Após detectar três sapos – com a boca atada – nas imediações da casa aonde habito. Agora perscruto o porquê de tanto chinfrim que os cães fazem de noite pelas duas da manhã. É tamanha algazarra que “parecem sete pobres num palheiro”. Levanto-me – tipo mirone - e não vejo ninguém nem nenhuma alma penada E no fim de ter dado uma valente sacholada num dedo do pé esquerdo que me colocou de canetas arreadas, fiquei meditativo quanto muito dorido. Que há coisa, isso há! Acho por bem não divulgar o dedo, porque quando dorido, parece que tudo lhe impeça… assim fica o registo mas em anónimo.
Depois de desabafar em voz alta as mil e uma diatribes e peçonhas a alguém, dado a estas coisas do “paranormal” confidenciou-me que - “ andas a menear os lordes cá da quinta e eles, pimba, enfadam-te/infernizam-te a viola. Eles frequentam muito, esses sítios de sortilégio. São dados a rescaldos de persecutoriamente ataviar de maleitas a vida dos outros ”.
- Tranquilo. Respondi-lhe.
- Tranquilo!? Estás doido ou quê? Tranquilo! Nem sei se deva rir ou chorar!
- Faz as duas coisas.
- Faço as duas coisas!? Este gajo está doido varrido. Então para as bestialidades que lhe assola a vida, este lírico do caralho, está-se a borrifar!? Está doido? Só pode…
- Não me importa que frequentem esses sítios, não me afligem nem tão pouco me deixo condicionar por tais intenções. Acredito em alentos bons, e nos seus fluidos imberbes. Não me deixo inquietar com coisas do arco-da-velha. Fui instruído, numa de apreciar a contenda da vida nas suas valências/latitudes, alcances/desencontros e fronteiras/precipícios. Respeito de tudo um pouco, como desdenho disso…
Para o mais a Ti Augusta do Soladinho, deixou-me como antídoto, estas três frases incorpóreas: - Alho-porro tem três folhas, tu bruxona não me tolhas; tu és ferro, eu sou aço, foge bruxa que te embaço… … … … … … … …
Hei, lá… não me recorda da outra. Não pode ser! Aqui existe o jeito de quem anda a subverter a racionalidade costumeira das coisas. E faz emergir a irracionalidade dos factos! Mau, Maria, que me empurras e me tentas! Existem só ventos poluídos e anafados quando nos deixamos de respirar pela nossa cadência harmónica.
- Meu. Deixa-te dessas retóricas. Olha-me para a tua figura. Olha-te, andas a ficar seco como um bacalhau… magro como um cão… velho que eu sei lá o quê! E não me dás uma razão plausível para isso… … que dizem os médicos? O mundo está cheio de gente má, invejosa, que não olha a meios para atingir os seus fins… que fazem de tudo para se sustentarem sem escrúpulos na frente de tudo e todos. Tem dó e cuida-te…
- Estou impressionado com a tua clemência. Neste espaço de tempo que ocupo, vivendo, vivo nas trevas do divino. Não me sinto pressionado a acautelar uma vida no bem bom, além da terra. Talvez por isso e outras coisas, eu tenho nojo de gente que se omite e tenta por artes malévolas infligir danos nos percursos das nossas vidas. São os pobres de espírito. Os que durante uma semana acometem as maiores atrocidades contra a partilha, solidariedade e respeito mútuo e depois vão á missa resgatar de um deus qualquer, absolvição, como quem toma banho de uma semanada valente de porcaria. O Deus que eu consinto como exemplo advém de Jesus, feito homem. Acredito em algo que me transcende. Recuso-me ter nascido só para morrer. No entanto – agora - refugio-me no silêncio que havia antes de eu nascer e no que perdurará depois de eu morrer, para restituir aos meus passos alguma aquietação. Não me preocupa o depois. Preocupa-me o porquê, que essa gente confecciona tal melindre!
- Ganha juízo e combate-os, dando-lhe a provar do seu próprio veneno. Acicata-os. Espevita-lhes as entranhas. Moei-lhe a figadeira…
- Eles é que se vão alimentar do seu próprio veneno. Do naco que nos presentearam vai-lhes sobrar o descomedimento do seu juízo final. Se Deus é tão Misericordioso e justo pactuará com outras práticas de misticismo – que alteram a vontade do seu destino – que tais labregos nos tentaram doar ou impingiram “por palavras, actos e omissões”?
Amigo não te tiro a razão modal mas a parte do incondicionado é minha…
- Pois. Mas… a ser assim pagas, um preço alto.
- São, as únicas contas que tenho em dia… … …
… … … …
ALBERTO DE CANAVEZES