FUTEBOL I
A chaminé por onde desce o Pai Natal ...
O pai natal faz a alegria dos
nossos putos. Mesmo anafado desce a chaminé e dá – com a nossa ajuda –
presentes aos nossos meninos. E eles, nessa ilusão festejam a efeméride com um
sorriso cândido de felicidade e regozijo. Assim acontece no nosso futebol.
Existem os meninos que recebem
sempre prendas ao seu gosto e aqueles que se divertem com o seu possível e os
sobejos, deles.
Por cá sofremos de uma doença
crónica, que por ser como tal, só admite a efemeridade do êxito a três
galifões. E de vez em quando, por improviso no guião, a um ou outro “ignorante”
que sorrateiramente assoma a gloria com outro ritual de dribles e xises.
É de uma segregação atroz e de
uma propositura maquiavélica instituir as facilidades do sucesso nos moldes de
que os mesmos desfrutem disso bicando e depenando os outros a seu belo prazer.
Não há benfiquista maior do que eu, não o admito, mas o meu pleito de o ser,
alicerça-se na competitividade acérrima e na sua proporcionalidade.
A nossa cultura futebolística
é uma descomunal amalgama de piolhices e chatos. Aonde uns coçam mais cima,
outros coçam mais abaixo. A analogia é o aplicar os dedos a friccionar e a sua
disparidade é a zona extemporânea a necessitar de intervenção.
Julgo que o campeonato deste
ano já perdeu o entusiasmo. E o futebol não pode ser uma ilha no desporto. Se
todos os campeonatos das outras modalidades foram encerrados o futebol também o
deveria fazer. Não faz sentido um estatuto de exclusividade para uma modalidade
que se sustenta num faz de conta latente e muito obnóxio. As artimanhas que uns
usam para nele predominarem, outros o fazem para nele sobreviver. Todos o
sabem, mas todos o consentem, porque não querem, nele perder espaço e
protagonismo. É tipo – o famigerado sistema – que nos estimulam e impigem para
não se poderem mudar as coisas. Aproveitemos, pois, este miserável vírus… para
desintoxicar e desinfectar o futebol.
Esta época não haveria de
haver campeão. Mas seguir a representatividade nas competições europeias
conforme se apresenta a tabela classificativa actual. E vamos então à europa
se, entretanto, a coisa se apaziguar...
Já agora por falar na europa,
considero que as competições europeias são um embuste. Sempre fui, e serei
sempre contra, a actual Liga dos Campeões. Ela representa um clube restrito de
privilegiados, de comensais, de abastados e latifundiários. É um sorvedouro
para os já mais poderosos o serem ainda mais e dominarem a seu belo prazer.
Privilegia o melhor de todos o que é obvio, e também o primeiro dos últimos.
Noutros sítios o que merecia a medalha de bronze… de latão… de esferovite… e
quiçá até a medalha de cortiça. E todos
também “sabemos que se não é do cu, é das calças” que sobressai o maganão na
passerelle para pegar na orelhuda. Antes do desfile, já estamos carecas de
saber quem são os prováveis afortunados a serem os heróis da fita. Só restando
saber se os felicitamos em inglês, espanhol, alemão ou em italiano.
Defendo uma Liga de Campeões
com os legítimos campeões de cada país. Uma Taça das Taças para os vencedores
das taças de cada país. Aqui incluía a
Taça da Liga e de Portugal. E um torneio para o primeiro dos últimos e damas de
honor… Com o perfil do Campeonato Europeu, através de um sorteio puro e cru.
Sem potes de meninos mimados e meninos da rua.
O futebol actual tornou-se
mesmo a carinha balofa do pai natal e de quem vive a ilusão de receber
prendinhas fixes.
A chaminé por onde desce o Pai
Natal ... e o gozo de escorregar.
Em absoluto não estou a favor
do recomeço da I Liga. E muito menos quando a II Liga e o Campeonato Nacional
de Futebol Feminino, foram suspensos. E muito menos concordo com a argumentação
“que envolve muitos interesses económicos” e que gere milhões e os bla, blá,
blá do costume.
Existe o conceito que o mesmo
vai-se desenrolar num espaço territorial do país.
O circo pode ir em caravana e
assentar arraiais. Podem arranjarem aquartelamentos de última estirpe e campos
de treino submersos em gel desinfectante. Podem definir meia dúzia de Estádios
para realizarem os 90 jogos que faltam, sem grandes problemas. Aveiro, Coimbra
e Leiria possuem-nos às moscas. E o do Algarve, simplesmente é a sua colonia
balnear. Todos os participantes estarão e ficam em igualdades de circunstâncias?
O Campeonato sem prosseguir no
espaço territorial de cada Clube perde a graça e o seu enlevo. E muito mais
isso se acentua, quando as bancadas estão desertas da impulsão e estrépito das
emoções. O que lhe dá fascinação e inquietação é o bruaá dos adeptos.
O silêncio é algo para o
futebol como uma bola vazia, um campo sem marcações, balizas sem rede, um
arbitro sem apito ou bandeira e o balneário a feder a álcool mais que o suor.
Se dúvidas houvessem, este
acervo de precipitações e pasmos discriminatórios demonstra-nos categoricamente
que o futebol representa um mundo à parte da sociedade e que dela absorve os
mesmos defeitos corrosivos que a dilaceram.
A I Liga tem Clubes a mais.
Alguns deles desordenam as regras e patenteiam declarações verbais e escritas
que não passam de floreados. Nelas alegam que está tudo em dia…, mas qual o dia
que isso espelha?
Os atletas estão rodeados de
uma permanência médica constante e vivem rodeados de outros afagos que lhes
proporcionam altos rendimentos. Mas isso não invalida que de quando em vez,
existam falências de segurança que originam despistes, acidentes, e expressões
de um travo bem amargo.
Qual o repelente que
descobriram para no contacto físico enxotar o bicho?
Ou já descobriram que o vírus
não ataca humanos masculinos que joguem no campeonato principal?
Ou vão jogar em espelho… ou
tipo matraquilhos?
A parafernália que vai ser
necessária para criar uma estratégia de esterilização dos logradouros da
competição é constituída como, quando e por quem? A sua presença e artilharia não coage e inibe
o atleta?
Além do equipamento essencial
podem prescindir das chuteiras e jogarem de pantufas, para não permitirem tanta
intensidade?
A grande vantagem é que
ninguém no relvado que estiver no banco – não estou a ver os jogadores a
arrojarem-se de máscara – necessita de meter a mão a tapar a boca, para o
adversário não lhe ler os lábios.
E se o vírus colocar alguns em
fora de jogo, o VAR vai actuar? Como se vai corrigir para que não aconteça reincidências?
Ou vão continuar a explorar a ignorância
da dita “intensidade” que se usa para circunscrever as versões que interpretam
a condescendência e a malevolência das faltas?
Haja juizinho e uma pitada de
coragem.