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quinta-feira, 13 de outubro de 2011

A ANALOGIA DO IDIOTA


(Excerto de um livro escrito á oito anos por Alberto de Canavezes)


O “Tal” e os seus cromos preferidos!Após uma noite mal dormida – ele que era o “Tal” – emergiu de uma insónia, estranho e atarefado. Estranho, porque gritou: “um homem quer – se feio, pesado e a cheirar a cavalo”. Atarefado, porque saiu de casa sem lavar a cara, sem se pentear, fechar a porta e o portão da rua.


O “Tal”, era um homem de quase trinta, anos. Um bólide que com o tempo se tornou um mero carrito. Uma impressionante pessoa que de magnânimo só tinha a sua própria sombra. Defensor da política da manilha, era num prato tradicional que se sentia universal.


Era um viajante invertebrado e nos cinco continentes divulgava as sete maravilhas do seu mundo:


O dividir para reinar;


o de uma mentira repetidas muitas vezes fazer verdade; o dar com uma mão e tirar com a outra;


“no meu séquito: eu penso, tu calaste, ele bate palmas, nós fazemos uma equipa em mim, vós aclamais as minhas ideias e eles são burros de todo”;


deixar fazer... como procederes assim me acharás;


eu quero, posso e mando e dos eleitos sou: - o ... auro.


Era uma pessoa pitoresca e mulherengo q.b. Viu a sua força como um dom de quem surge por detrás de um humilde e bondoso “pichorro” e é eleito de braço no ar.


De um dito democrata convicto que até combateu o António da calçada e seus acólitos a coberto de uma “tengarrinha” pata de galinha, tornou – se no “Tal”. Aquele que viu de três tijolos em três tijolos, crescer uma data de manivelas de progresso até ao dia do efeito da cor do firmamento. Não é o sintoma de qualquer cabelo ou barba azul, mas sim de um veículo de baixa cilindrada, estacionar pela urbe do jardim do interior do pinhal.


Deste intróito, vamos conhecer o “Tal”, uma personagem ecléctica.


Nasceu entre um emaranhado de chapas e coiros de animal ao sol... Defendeu antes de um risco de cal as redes de dois postes e uma barra... Os seus conhecimentos foram proliferando na universidade da vida. Conforme se picava aprendia... Até aqui nada de mal. Uma vida tão normal como comum. Não leu o livro do Mao Tse Tung, as cartas de Lenine, O Capital... De outros livros – muito poucos – leu as vinte primeiras paginas e as ultimas e tirou as suas conclusões. Reflexo disso como acção, emprenha pelos ouvidos. Ou seja não perde tempo com os conteúdos.


Voltando ao seu acordar atribulado. O “Tal” entra no carro, olha – se ao espelho e balbucia: “Meu Deus sou tão lindo, tão lido que pareço uma galheteiro do azeite” Azeitando o bigode. Coloca o carro a trabalhar e dirigindo – se para o emprego sufragado, verifica que um tractor em tons de verde suga os resíduos de uma fossa séptica.


Depois pensou: - se não consegui um sistema de reciclagem para onde irá esta merda toda!? Então decidiu fiscalizar para onde era despejada a enxovia de condimentos depois do depósito do tractor estar cheio. Foi saber as recolhas que seriam efectuadas nesse dia. Chegando a hora das consultas no adro da paroquia política maior das quatro mais pequenas. Esteve maior que Pavaroti na aplicação das notas graves e agudas; superior a Vivaldi na composição das quatros estações que regem a sua musica, em outras tantas partituras, a saber: “ainda não me esqueci” / “aponte aí...” / “eu é que sei, eu é que mando” e “ agora não tenho tempo”.. No fim de uns estarem aviados e outros servidos, chegou espampanante a personagem que consegue em dias de nevoeiro andar de óculos de sol escuros como quem pretende perscrutar na neblina o regresso de Dom Sebastião. Segundos mais tarde aparece o activista do pelouro do garfo e faca, que não tendo tacho para os lados da serra do pássaro grande, vem glosar o bucho na terra do “Tal”.


Na troca de beiços e bacalhaus de chegada, partem os três para amotinarem no bandulho produtos endógenos. Ela, e o Outro, mais o “Tal” no repasto mastigaram ingredientes comestíveis com tácticas de simulação dissimuladas. Mais redutoras que as de Maquiavel no “O Príncipe / Arte da Guerra”. No fim de bebericar uma bebida fina, o “Tal” lembrou – se do tractor das fossas sépticas. Partindo os três no seu encalece.


No fim de efectuarem várias curvas, conseguiram detectar o tractor pelo cheirinho nauseabundo que dele proliferava.


Escondidos entre a berma e o alcatrão – já que existe um desnivelamento deveras acentuado entre as duas componentes do piso, Ela disse meigamente para os dois: - Confrades, porque estamos aqui?


Estamos a detectar a finalidade, do tractor como agente despolido do meio ambiente – disse o “Tal”.


Contra argumenta o Outro – Despolido!? Já estás a confundir as lantejoulas! Não querias dizer despoluidor?


- Porra chega! Estás a desautorizar – me. Ou dizes comigo ou não almoças nem jantas mais ao meu lado.


- Tá bem! Tá bem!


- Ai! Ai! Estou á rasca para fazer chichi... murmura Ela.


- Ó Ela! Ai de si que polua as valetas. Aqui não podemos


contaminar os ciclos da natureza.


- Chila! Embucha o Outro, com as mãos na braguilha apertando a tromba do sistema urinário. Ai que grande purgatório. “Cum camano”!


- Calma que os dois meliantes do tractor estão de abalada. Quero saber se o sistema que utilizo há muitos anos tem fugas ou está como começou.


- Estou quase a mijar – me. Divagou Ela.


- Extorquiu Ele, se não bastasse isso também quero arriar o calhau!


- Libre – se ! Libre – se! Aqui não se expele para o solo excrementos de índole duvidosa. Seus sovinas. Atoleimados!


Nisto o tractor arranca, e depois de muito circular sem se avistar viva alma por outeiros e valeiros. Os meliantes olharam em seu redor e não vislumbrando testemunhas, evacuaram o depósito do tractor para uma ribeira.


Eufórico o “Tal” excita – se com tal desiderato e proclama: - Funciona como antigamente. Esplêndido. Fertilizantes orgânicos naturais. A ribeira fica vigorante... minha deusa como estou orgulhoso de mim. Um sistema rudimentar que urge preservar. E andam por aí uns detractores a dizer que não sei salvaguardar as coisas do antigamente. Este sistema é genuíno, autêntico. Ingratos são o que eles são. Desatinados da mioleira.


Olhando – se, Ela e o Outro, incrédulos com o que tinham visto, brotaram cada um de sua boca um “ha” de misericórdia, ao mesmo tempo que evacuavam também.


Exclama o “Tal”: - porcos, anda uma pessoa numa terra sem maus cheiros e sem atentados contra a natureza e vêm estes gajos para cá poluir o ar e contaminar os lençóis freáticos. Podem continuar a comer comigo mas para evacuar os nossos recursos endógenos gastronómicos vão para a vossa terra. Perceberam!?????


- Sim, mestre. Estamos esclarecidos. Reproduziram a Ela e o Outro.


- Atónitos mas confiantes nas potencialidades dos repastos garantidos sob a intercessão de não contradizerem o “Tal”.


- Outra coisa, aqui ninguém se está cagando para o segredo da minha justiça! Compreendido!?


Quanto aos meliantes, sorrindo e sem cofinho, não lavaram o deposito do tractor e nem deram pela presença de tão ilustres espiões. Talvez fossem confundidos com a paisagem ou como se constata com enorme frequência a sua presença pela coutada do “Tal”, já passem despercebidos.



Os podões na terra do lusitano



O “Tal” chama o seu Peão de Brega e diz – lhe: - temos que ir ao Congresso nas terras do lusitano e enfeitar os nossos militantes de base que só estão regulados para votar como eu quero e mando.


- Sim. Sim. Mas se você nasceu no dia x do ano Y vai acabar o seu mandato quando!? É a única conta de matemática que não sei fazer. Sinto – me frustrado...


- Cala – te. Longe vá o augúrio. Aqui só metes o pilim e dás o corpo ao manifesto. Vai pela surdina da noite aos nossos correligionários e clama a sua presença de imediato na quinta do laranjal. Vai de mansinho e não levantes muito pó.


Olha que existem desnaturados que querem apoiar o que colocou palmeiras no areal limítrofe há foz do Mondego. Nós queremos aquele que tem como pratos preferidos o cherne e a uva. Pelo seu paladar também me dá tacho a mim. Já basta o tempo que estive calado durante o reinado do “eu nunca tenho duvida e raramente me engano”.


- Pois aí nunca falastes sobre a estrada da beira e a beira da estrada, a pensar que o homem te dava um tachito. Retorqui o Peão de Brega.


Pensou o “Tal”, “se não precisasse desta miserável besta eu dava – lhe tantas caricias a alta velocidade que ficava com os cromados cheio de mossas”.


- Sim meu magnânimo líder, eu cumpro, eu executo, eu faço, eu sou em mim propriedade sua.


Pela calada da noite o Peão de Brega vai de casa em casa dos eleitos por obediência. Vai a casa do Bravo; do Bate Palmas; da Sim Senhor; do Fala Calado; do Porta-voz e do Espia Falas.


Reunidos, o “Tal” discursa:


- Estamos aqui para fazermos uma equipa que defina uma estratégia para o congresso em que se eleja o dito que gosta de cherne e da uva.


Rebelião na quinta do laranjal, como se do seu sumo alguém consiga levar um carro em rodage.


O Porta-voz e a Sim Senhor, explodem: dieta! Dietas!? Isso é que era bom. Julgam que este corpinho se alimenta dessas coisas!? Disse largamente a Sim Senhor.


- E eu por ser a porta da sua voz, pensa que ganho energias com essas porcarias!? Se calhar quer que eu morra, é?! Frases ditas em tom de declaração de voto.


- Bravo! O mesmo faz pleonasmo em nome.


- Bate – se palmas na sala. Escusado será dizer que agiu


o propriedade em causa própria.


- Fez silêncio. Foi o espaço de antena do Fala Calado.


- Fez – se um apanhado do que se disse. Protagonista da


película o Espia Falas.


- Vá nós, somos uma equipa e como o mais abrangido pela sapiência, proponho que me sigam os passos e olhem para mim e façam o que eu mandar. Compreendido?


No fim de potenciar a figura do mestre, os eleitos ficaram absorvidos do seu anátema de exigências.


Quando se fechou a porta e todos desceram as escadas da quinta do laranjal, ambos fizeram um compasso de espera na expectativa de o líder arrancar. Colocando o carro em marcha todos se precipitaram para os seus veículos e como por instinto todos em fila indiana foram atrás do “Tal”. Este pelo aparato e barulho pára o carro e veementemente gesticula e protesta.


- Que romaria vem a ser esta. Está tudo doido?


O Peão de Brega que era o segundo vendo tais actividades que suponha ser recreativas e culturais emita – o, o que proporciona um movimento expontâneo de aderência dos outros membros de rara beleza de expressão corporal.


- Era vir um cão grande e morder – vos os calcanhares suas ovelhas.


- Mas o senhor disse para o seguirmos... ...e o imitarmos!


- Olha Sim Senhora! Deixem – se dessas parvoíces... só fazem de melgas no congresso. Vão para as vossas casas e cuidado com os pneus nos buracos. Não quero mais barulhos.


Passaram – se alguns dias e o “Tal”, entre o dicionário da língua portuguesa, um carrito de lazer e o espelho, vadiava os olhos o esqueleto e as mãos pela barba, respectivamente.


O dia chega e a terra do lusitano teria a honra entre outros ilustres da presença do “Tal” e dos seus sete amestrados e jubilados podões que iriam garantir a elevação do cujo perante o cherne e a uva.


Ao sinal... a conjuntura... pretendida... ... ... ...


Espia Falas, num balanço final rematou o que lhe ia na alma e debaixo da língua.


- Ora que grande embuste de estética:


Um cherne uma uva e um lantejoulas!


Uma uva, umas lantejoulas e o cherne!


Umas lantejoulas, um cherne e uma uva!


De todas as maneiras soa – me mal.


Aqui há sucata de um ferro velho que me lembra muita coisa. Alguém, foi enganado mas não nós. Quem seria! Será que foi o tipo das palmeiras na foz do Mondego? Santa Ana nos optes de boas graças.


O Peão de Brega; o Bravo; o Bate Palmas; a Sim Senhor; o Fala Calado; o Porta-voz e o Espia Falas, depois da injecção da instrução e da sincronização na onda do “Tal”, ficaram pelo anonimato da sala e na prontidão de um regresso aperreado e melancólico do dever cumprido...


Meses depois o Peão de Brega vai de filado em filado e pede a colecta devida, referente aos sete amestrados e jubilados podões que estiveram em terras de Viriato. Chegando em frente “do Lírico”. Ele numa atitude de espalha brasas e de quem quando começa a falar ser pior que as regateiras das praças, eclode:


- Quem se serviu do meu rege... isto, para eleger um dele... gado, num abuso de cilada dia... não espere de mim um… tribo de puto... porque não participei nessa romaria... nem nessa feira de vai de idades. São sempre os mesmos cromos! Não existem cueiros novos... nem pé no direito do caminho que cada um pretende trilhar. Quem usou e abusou do meu direito de opção e delegou sem me escutar – para beneficio próprio – o direito sagrado da democracia, respaldou – se de tostões para o fazer, agora que assuma o prejuízo.


Não pago! Não pago e não pagoooooooooooooooo!...


Alguns minutos depois o “Tal” era besuntado pela notícia.


- Olha, o “Lírico” diz através de um discurso de enigmas verbais que quem se serviu do seu numero de sócio do quintal do laranjal, que pague. Falou demais para o meu sentido aritmético. A raiz quadrada de....


- Chiu!


Esse gajo é um traidor. E ainda diz que me é fiel. Filho de um pai utente ter antenas. É um monte de esterco em cima de uns sapatos. O sacana está a sonhar em roubar – me o lugar... está muito enganado. É por estas e outras que sempre lhe coloquei um arreios curtos... Filosofo barato! Pregador de regalo manias!


- Regalo manias? Não será megalomanias!?


- Cara de asno...


- Eu ou ele!?


- Os dois.


- Mas éramos os dois a falar dele!


- Boca fechada... idiota!


- Mau, mau! Já estou a ficar confuso... confuso mesmo. Qual de nós é o asno e o idiota?


- ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...


- ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ... ...



Só se ficou a ouvir o chilrear dos passarinhos!



A cabra e a galáxia



Nos planetas que avizinham a terra, num basto rosário de guloseimas e pratos tradicionais existe uma paróquia na terra em que por cada esquina existe uma placa de trânsito e em cada rotunda um reclame que abrange um publico universal. Pelos ares, irão as mensagens para Marte, Júpiter, Saturno; Urânio; Neptuno; e Plutão.


Existem dias para tudo, e surgiu a semana do prato tradicional na paróquia do “Tal” para os oito planetas.


Casas de pasto candidatas foram oito. Foram seleccionadas quatro por um júri exigente e diversificado. O insuspeito e imprescindível: o “Tal” era o mordomo maior. Em cariz descendente a “Ela” era a da mordomia menor. Depois os podões do costume, os ditos mamadores do sistema.


Fizeram – se pratos e acessórios alusivos ao evento e rubricou – se um protocolo com o deus vago. Dão, também oferendas aos forasteiros que apareceram.


O vinho é “avolumado e não tem espinhas”, assume o enólogo mais famoso da periferia planetar e arredores. O Gargarejo era um bebedor do caneco e apalpador de queixos, sem espinhas. Era selecto mas com texturas de inabilidades – dizem as más-línguas “é por ser assessorado da reforma”. De manhã era perceptível de tarde tem dificuldades em fazer comunicados.


Mas vamos para a semana que já esfalfava nas hostes de todas as latitudes, apetites vorazes.


Todas as receitas têm um receituário de ingredientes. Da que pretendemos falar – ela – tem com intérprete principal uma cabra velha, depois sumo da uva; bolbos de alho; salsa; louro; colorau; cebola e um bom fio de azeite. E como receptáculo não um recipiente azul, mas vermelho que depois de cozido e abafado fica preto.


O nome que lhe dá origem segundo fazedores ou contadores de relíquias idóneas será proveniente do termo: - chanfrada. Da primeira vez que se confeccionou o animal era uma cabra velha e varrida dos cornos. Para ser comestível foi bem temperada e bem fedida.


O bode da manada á qual – ela – pertencia era super dotado e um “dom Juan” entre o sexo oposto.


Os bigodes arrebitados e a pêra desmaiada eram o seu cartão de referência. Cada abordagem para relacionamentos mais íntimos era um ritual de bedum, deleites e repastos por prados em todas as galáxias. Ambos velhos e carentes do frenesim dos rituais de acasalamento, as carnes tronaram – se mais duras e com peles flácidas. A cabra carente de grandes correrias tornou – se dura e seca.


Conquanto, havendo discussão e enormes divergências duas paroquias disputavam a origem do prato mas a cabra genuína do prato tradicional circulava pelas terras do “Tal”.


Adiante, fez – se a semana da chanfrada e foi um sucesso, pelas seguintes conclusões:


1. Nas casas de repasto o fluxo de caixa foi menor, menos prejuízo para os proprietários em caso de roubo;


2. Os emissores oficiosos de escrevinhar e da faladura da quinta do laranjal, conseguem enaltecerem o evento a muito custo a pedido das aposições;


3. Para sossego da NASA não apareceram extra terrestres, mas foi assinado com os “united states” um protocolo para quando da chegada a Marte de um homem, o primeiro prato será da “cuja”, se for primeiro um animal será uma cabra velha;


4. Para tranquilidade das famílias os “Ets” não vieram desencaminhar os meninos e meninas;


5. Não foi preciso colocar os paquímetros á pressa para ordenar os estacionamentos das naves;


6. Os aldeamentos turísticos não sofreram desarrumações nem danos patrimoniais e o pessoal não teve que fazer horas extraordinárias;


7. As piscinas, mais o campo de ténis ficaram com os mesmos horários sem sofrerem alterações para os jovens continuarem a praticar desporto e no campo de golfe foram usados saca-rolhas cientificamente para desentupir os buracos, devido ás enxurradas de água...


8. O estádio paroquial para a bola no pé foi inaugurado na mesma semana em Júpiter – na primeira fase – depois será nos restantes planetas... no fim da sua conclusão será transportado para o sítio do seu reclame em carne e osso. Tudo isto, lá para o ano em que a Alice no país das maravilhas seja lido no planeta Saturno e a Branca de neve e os sete anões lavrem a terra com as unhas dos pés com as meninas do Sado.


9. O parque de campismo esteve fechado para desinfecção e o museu está a viver uma crise de identidade – só existe lá um retracto e aguarda outras figuras para a história;


10. Os monumentos ficaram todos borrados por causa da época migratória dos pássaros e fechados aos olhares públicos mas agregados aos doze meses do ano como feituras para fazer.


“Nove, noves fora zero”, disse o Peão de Brega e muito bem. Tendo o Espia Falas como quem profere uma oração exclamado: A vossa palavra que seja a minha. A bem!


Tendo o sino resvalado as treze horas em Portugal Continental, quando se fez em todo o universo planetar, um minuto de silêncio pela cabra velha. Viva a Chanfrada!



Os mimos e as fases da lua



O “Tal” definia os seus amigos mediante os seus interesses e conveniências. Era um abissal e abismal feitio que o levava a querer ser deus e o diabo ao mesmo tempo. Nunca leu José Régio e muito menos o seu excepcional poema: - Cântico Negro. Mas muito provavelmente nutria na telepatia as afeições dos seus dotes de armazenar na gaveta o que o incomodava; a congelar o que vinha de outras origens para mais tarde por trela fazer circular; a colocar no frigorífico o que de viçoso surgia, retirando – o para consumo como proveniente de uma zona demarcada sua; a fazer segundas vias das primeiras quando as primeiras eram coisas comitentes. Enfim, vivia nas contradições de quem fala por improviso. De arranjar fretes para os filhos dos seus adversários políticos para lhe calar a voz.


Fazia o culto da sua personalidade e licitava orgasmos de ternura quando queria denegrir as ideias dos outros.


Um dia de lua cheia, após rabanadas de vento agreste demandadas dos seus pulmões, ressonava quem nem uma mula velha a relinchar, quando acordou sobressaltado. Levantou – se espavorido e de uma assentada bateu a pala;


benzeu – se; ergueu as mãos em oração; ajoelhou – se; bateu palmas; fez fixe com o dedo polegar da mão direita e limpou o túnel nasal do lado oposto com o indicador direito; saltou; apalpou os assuntos sexuais reprodutores e deu uma bufa. Olhando para o leito tentando acordar a companheira declamou n nomes femininos, até que acertou: - “ Ela”.


- Estou com suores frios.


- Ohm!


- Tu não ouves?


- O que é que foi agora!?


- Estou mal disposto. Tive um pesadelo.


- Está caladinho e dorme.


- Ouço uma voz a dizer – me: “ Tua andas como as pessoas, ristes como nós, falas como qualquer um, mas não és como a gente. És um predador de sacristães polípticos. Agora reinas... mais tarde tu verás o teu império sofrer o prazo de validade e irás para as calhandras do precautório...” Estou receoso do que me possa acontecer!


- Olha e diz três vezes: Alho-porro tem três folhas tu “bruchona” não me tolhas:


- Ainda ontem o disse. Já não faz efeito.


- Tu és ferro eu sou aço, foge bruxa que te embaço.


- Essa está ferrugenta e já existem rebarbadoras...


- Que grande gaita! Então cala – te. Vai beber um copo de água.


- Não tenho sede e tenho medo do escuro.


- Vá agarra – te a mim e dorme. Toma um comprimido para ensonares e conta carneiros.


Nisto, procurando às apalpadelas o comprimido que apanha é azul...


Deita – se e começa a contar carneiros pelos dedos das mãos com os braços estendidos – um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete, oito, nove, dez, onze – fez um compasso de espera e explode – onze? Quantos dedos temos… nas mãos!? Ficando atónito e mais tenso ainda.


Mau, mau!


Onze!? Tirando os braços de repente debaixo do lençol. Conta os dedos inúmeras vezes e totaliza sempre dez. Quantos dedos têm!? Não tens por aí nenhum a deambular?


- O quê!? Estás parvo tenho vinte e quatro...


- Vinte e quatro?


- Das mãos e dos pés, tonto.


- Há tá bem.


Após um ligeiro olhar para a mesinha de cabeceira reparou que existia uma zona empinada ao fundo da sua barriga que levantava o lençol.


Começou a transpirar e atordoado de todo, salta da cama gesticulando para o volume entre as pernas.


- Ele está aqui! Ele está aqui! O maldito demónio está aqui! Parece o satanás. Agarrando o danado.


Ela, com um olho aberto e outro fechado olhou de soslaio para ele e vendo a figuração do artista reclama maliciosamente:


- Encosta – te a mim, vá meu tontinho. Vais ver como ele desaparece.


Meu dito meu feito, abraçaram – se e o pseudo – intruso desapareceu. Enroscado um no outro, ele começa a transpirar e ofegante salta da cama e corre para a casa de banho.


- Está a ver! Está a ver, por causa desta porcaria toda, estou com vontade de mijar. Olhando a cor do liquido desmaia e bate com a cabeça no autoclismo.


Ao mesmo tempo a Ela bateu com a porta e saiu espavorida.


Longa, horas depois acorda. Levanta – se... lembra – se da descarga do autoclismo e de um liquido condensado semelhante ao leite. Baralhado toma banho, veste – se e pronto para sair de casa repara que era de noite estando um céu estrelado com a Lua bem cheia. Eclipsou – se e começou a cochichar: “ raios partam. Meu deus que se passa comigo?”. Senta – se nos degraus das escadas e passa as mãos pela cabeça, reparando num enorme cabulo na testa.


Tenta reflectir sobre tudo que o absorve na perspectiva de orientar um rumo para emergir, baseado na obsessão do barulho do autoclismo. Não conseguindo associar os seus movimentos intenta num pesadelo e conquista na imagem da Lua a sua salvação.


Como uma bússola procura o seu norte na Lua cheia, lembrando – se do Peão de Brega puxou do telemóvel e digitou o seu número.


- Estou! Estou! Está!


- Está! Estou! Estou!


- Ai um orvalho de pelos te invada a particularidade do teu ser. Estás por onde?


- Estou em casa, acabei de tomar banho e vou – me deitar. (Emaranhado na aritmética soletrou) - “Cada torneira deita cinquenta gotas de agua por minuto quantas gotas gastei em dez minutos de banho?


- Mais que muitas imbecil... Vem já imediatamente para minha casa e não demores. Chama o Espias Falas e tenta saber por onde anda o Lírico.


- Mas !...


- Nem mas, nem meio mas, já! – Desligando o telemóvel.


- O que quer dizer com pipipipipipipipipipipipipipipipipipi?


Cada vez o percebo… menos. Enfim.


O Peão de Brega apronta – se sem se despedir da sua esposa que já não via desde a primeira tomada de posse do “Tal”, percorridos quase três décadas.


Contacta o Espia Falas e pergunta – lhe pelo Lírico.


- Sabes do Lírico?


- Porquê?


- O “Tal” quer saber dele. Estava muito esquisito. Vê se o vês e vai ter comigo a casa do “Tal”.


No fim de muito circular no núcleo e na periferia da quinta das tabuletas, nem chus nem mus do Lírico. Lembrou – se da redacção do mensageiro da oposição e foi para lá na expectativa de o encontrar por lá.


Entretanto em casa do regedor do quintal do laranjal o Peão de Brega já se encontra a monologar com o “Tal”


- Que mau aspecto você tem inquestionável chefe. Sofreu algum atentado, ou quê?


- Olha vai – te ferver na descarga de um autoclismo que terás bons odores e poios como companhia.


- Pronto, pronto! Os recados de hoje estão prontos e o Espia Falas, foi ver se vê o Lírico.


- Foi pragas que esse filósofo e poeta barato me rogou.


Estou meio grou das ideias e pensamentos... Tive um pesadelo com vozes... Tive suores frios. Tive temporariamente dedos a mais na mãos... Vi um objecto estranho não identificado entre as pernas... Agarrei – me na Ela tendo – se o tal coiro escondido... transpirei e fiquei ofegante dando – me uma vontade enorme para mijar... ao verter aguas a coloração colocou – me não sei como.


Depois só ouvi o barulho da descarga do autoclismo. Depois não me lembro de mais nada.


Ao desenrolar a história vivida das suas ultimas prováveis vinte e quatro horas, o “Tal” estava exausto e desnorteado. Colocado esta resenha o Espia Falas encontra – se com o Lírico. Este estava a divagar pelos passeios da quinta das tabuletas, assobiando uma rapsódia de fados da diva Amália Rodrigues.


- Triste sina… confesso que Deus me perdoe. Lá por que tens cinco pedras, não sei porque te fostes embora! Sabe – se lá! Traduzia o Espia Falas da presença do homem cujo paradeiro era desejado pelo “Tal”. – Que andas a fazer amigo?


- A vadiar o esqueleto, debaixo da lua cheia E tu?


- Não tens medo do lobisomem?


- Não tenho medo de ninguém, Graças a Deus. Aqui só existem raposas e toupeiras que merecem alguma atenção. Depois existem as fases de luas para além das naturais tendo como protagonista a verdadeira Lua cheia; nova; quarto crescente e minguante. Traduzidas para aqui querem dizer: o período da cheia é o ano das eleições, todos são bafejados pelas promessas e todos são bem-vindos e o de renovar as tácticas antigas nas feiras, convívios e restaurantes; a nova é o arejar das prateleiras e derrubar quem fica mal na decoração... potenciar os podões como adornos e referências; o quarto crescente é um bolo que partido por quatro e comido no mesmo prato quem tem arcaboiço na sombra do sistema é que lambuza os dedos o quarto minguante traduz as dificuldades daqueles que lutam pelo seu rosto e personalidade e são aglutinados por um ostracismo falso. Tematicamente corporaliza – se na teoria a benções e na pratica dão – se como direitos adquiridos o nada em antibiótico. Conversa fiada.


- És sempre a mesma coisa não dizes o que sabes nem sabes o que dizes. Filosofias.


- É verdade mas pelo menos tenho opinião, tenho o cariz do pleito da cidadania. Isto é a minha opinião e não é vinculativa, quanto ás outras luas nascem de alguém que tem os pés de barro e que para sustentar o seu poder sufragado manipula a seu belo prazer padrões de conduta e de definição através de consensos com a própria sombra. Como tudo na vida o que é demais é moléstia e o que passa para além das quatros fases da lua a história corrige e a ciência justifica.


- Tenho que me ir embora?


- Ok. Boa noite. E bons sonhos. Olha quem conta um conto acrescenta – lhe um ponto.


- Eu não sou bufo nem recoveiro.


Engatilhando para casa aonde o aguardavam, remoeu a cabeça com as fases da Lua. O barulho dos cães – alguns sem serem vacinados – registou a sua presença.


- Entra Espia Falas, o Peão de Brega já cá está.


- Boa noite. Encontrei o Lírico...


Contou tudo que ele lhe tinha dito e acrescentou – lhe um ponto: - “Olhe ele disse que lhe quer tirar o tacho”.


- Bem que eu desconfiava. Mas deixa que eu faço – lhe a folha. Mas a palestra das luas é que não entendi!


- Existem quatro fases da Lua. Certo! Então existem quatro trimestres. Certo! Quatro paroquias na quinta das tabuletas. Certo!... Quatro... ... ... ... ... ...


- Cala – te Peão. Não suspires mais enigmas! Além de faltar muito pouco para sermos uma sociedade perfeita... constato a falta de adivinhos e bruxas. Uma pecha lamentável. Vou incentivar que…


Interrompe bruscamente o Espia Falas: - Bruxas!? No plural penso que não as há. No entanto no singular ela pode existir.


- Ela? Ela!? Embuste. Quero um contacto de uma cartomante ou de uma taro logo. Já!


Nisto num rodapé frenético e demolidor o Peão de Brega e o Espia Falas após vasculharem páginas e páginas de jornais decidiram aconselhar: o Mentideiro. Este, no seu currículo contava inúmeras visões com sucesso e premonições com debaldes históricos.


Em tantas podemos enumerar as seguintes: a entrega de jornais a granel descrevendo um território aonde a Alice no País das maravilhas se sente frustrada no seu; a universalidade de uma ruminante caduca; com a “tese a puberdade da liberdade na adolescência da velhice” colocou em banho – maria a ditadura na democracia. Em conclusão analítica destacamos que argumentou “a omissão da realidade no arroto da mentira e os gases provenientes da verdade sem interesses relevantes”. Era o homem certo – mediante os cromos – para aquilatar a fases da Lua e decifrar o Lírico.


Telefone na mão, números marcados um “alô” repartido e contactos feitos. A consulta foi marcada e numerário estabelecido. Era incluído nas facturas dos almoços e jantares. Pediu uma fotografia do Lírico. Mirou o tipo e pensou: - “este gajo é jeitoso, levado de charmes e apresentado. Mas é um detractor”. E abobadando as letras das palavras espirrou da memória… numa forma equilibrada e audível: detractor.


- De tractor!? Com ou sem alfaias agrícolas? Meu venerável e intensíssimo mestre amado. Exalou o Peão de Brega.


- Qual, de tractor!? Detractor. És um confundo invertebrado.


- Com fundo… mas que fundo!?


- O raio que te parta.


- Vá, vão – se embora. Tenho que elaborar a lista de homenageados para os treze. Dia que nasceu a pró lítica embrionária, subversiva e submissa génese pipiar – ares!


Sou o seu pastor.


Sou o seu mentor.


Sou o seu fervor.


Sou o seu organizador.


Sou o seu apresentador.


Sou o seu mor.


Domo com serventia e cocuruto de gladiador!


Cala-te seu estupor!


Inclinou – se o Tal para o Peão de Brega. Que coçava a zona púbis com elevada carência… vagabundeando frases imperscrutáveis…


Já atribui inúmeras insígnias. Se te portares bem tens a probabilidades de seres agraciado. Dos sete mil e tantos habitantes, só faltam seis mil e novecentos e qualquer migalha. À libré arbítrio acerto com os meus amestrados pares nomes e depois acrescento uns tantos como a lengalenga: “ quem conta um conto acrescenta um ponto”.


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