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segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Dia 13 antes do natal

O que um escritor escreve são opiniões, digressões, ilusões, ilustrações das suas entidades enquanto cidadão. É um feiticeiro das palavras. Cada um desfruta das letras para associar palavras e arquitectar frases. Eu sou um pedreiro de palavras. Não sou nenhum candidato a Novel da Literatura, nem um edificador de bestsellers. Sou um dos milhares de escritores que rasuram páginas limpas com fisionomias verbais, com letras, erros, traços e riscos sobrepostos… sempre escrevi pelo prazer de escrever, como quem gosta de beber um bom vinho, ou degustar uma boa refeição. Tenho capacidade para contar uma história numa página como em oitocentas, ou mais que sejam. Como fazer um livro de poemas num dia...


Adoro que me invejem. Adoro que me roguem pragas. Adoro que digam mal de mim. Adoro que sintam a dor de cotovelo. Adoro que desvalorizem o meu trabalho, seja ele qual for. Adoro que algumas pessoas mais chegadas me desvalorizem. Assim como adoro as ameaças de feitas na rua, nos banquetes, nas conversas das comadres, nos cafés… e por aí adiante. A minha comenda é transformar lata em ouro. É o meu destino. Há duas a três pessoas que se lembram disso. Para esses o meu desprezo. São os ditos imaculados. Os que podem fazer tudo. Os que fazem a devassa da nossa vida privada, porque se rogam no direito de serem superiores. E não valem uma unidade excrementícia. No termo da palavra, no cheiro, na presença e na sua personalidade.


Posso fazer, uma história com dois parágrafos:


… Existe um homem pobre que vive todos os dias na rua, em condições pré-históricas… No qual só recebe um afago ou um carinho, ou um pão… quando se gastam milhares de euros em iluminação pública no mês de Dezembro… Porque será?


Numa linha:


E abandonado e só. Morreu como um cão deixado…


Numa palavra:


… Vergonhosamente.


A nossa intelectualidade está a viver momentos de amnésia social. De despesismo individual. Fomentamos sem o saber, o imediatismo no sentido de sermos o centro das atenções, quando deveria ser o contrario mas em sigilo absoluto.


A cidadania tem que forçosamente ser uma doutrina nas actividades curriculares. Não no sentido tendencioso mas no facto do ecumenismo, ou seja na tolerância e obediência de se conjugarem formas activas de participação sem descriminação baseadas em maiorias ou minorias estigmatizadas. No colectivo da nossa individualidade em comum.


JORGE GONÇALVES