Vivo numa sociedade – em que os fazedores de opinião – são uns “desarranjados”. Pavoneiam-se com um copo de vinho na mão e sem fundamentação ou critério de análise vai de lá criticam - quem ousa pensar diferente - porque sim. Habilitações para o fazer não o possuem mas descaramento sobra-lhe. Tudo isto bem a propósito de algumas considerações minhas em relação a alguns interpretes do Jogo Rei. Fui hoje ver, dois adolescentes jogarem, aos quais auguro um futuro muito promissor. Obviamente que temos que ressalvar algumas contingências e vicissitudes de percurso. Mas nada me impede de fazer prevalecer a minha decomposição na interpretação do seu jogar. Não posso prometer o que não sou capaz de cumprir nem tão pouco criar falsas expectativas… mas posso criar uma auréola de motivação…
Não sei fazer de contas – aliás nunca o soube – e por isso, quer queiram alguns indivíduos de pensamento curto e língua demasiadamente comprida, ou não, não me calo. Tenham paciência mas quando sei do que estou a falar e estou credenciado para tal, não me destituo das minhas convicções. Como tal digo-o à boca cheia e de peito bem firme que hoje vejo alguns jovens a praticar tal desporto com níveis técnicos e tácticos muito acima da média reinante. Estiveram num projecto onde fui o principal mentor. Categoricamente isso. Nem mais nem menos. Provam-no eles e provam-no outras Instituições. Se não o quiserem divulgar ou testemunhar não é problema meu. Os factos falam por mim, as evidências são indesmentíveis.
Que “pena” tenho eu de ter uma autoestima grande. Porque o patamar que falta a determinados grupos é a mentalidade. É o controlo emocional e de exigência que está em causa. A exiguidade é um mal da nossa cidadania. Pensar pela bitola curta é questão de quem vive o presente sem referências do passado e perspectivas de futuro. São pessoas que não se obrigam a outras exigências e patamares de compromisso na causa pública. É preciso instruir outros mananciais de conhecimento e prontidão. É preciso saber que esquartejar o que os jovens possuem de melhor - que é a sua criatividade - é diminuir o seu talento inato e a sua personalidade de interpretar o mundo à sua maneira. Ou seja, o seu cunho pessoal é estigmatizado. E sobressai o estigma de padronizar o seu estilo ao rodapé dos seus ídolos. “Marquei um golo de cabeça à Cardoso”, é bom ouvir isto… mas muito mau será que não haja ninguém responsável que diga: - Se ele lá chegou, tu também podes para lá ir. Sê tu em ti. Trabalha bem para “saber melhor”. Numa máxima “eu sou capaz”.
É ridículo não estimular os índices de confiança de um jovem. É absurdo não comparar o seu caminho curricular com a sua “ocupação” desportiva e vice-versa. É ingrato que não se lhe diga, “se aqui estamos a utilizar um tempo das nossas vidas, que o façamos com critérios de aprendizagem e com fundamentos criteriosos. Porque tanto se gasta o tempo para ensinar mal como a ensinar bem.”
Ninguém nasce ensinado. É preciso não queimar etapas de formação, em detrimento do efémero “posto” de classificação. O segundo é o primeiro dos últimos. Nem sempre o melhor treinador da formação é aquele que consegue ser campeão ou ficar nos “primeiros lugares”. É aquele que sabe fundamentar nos seus “educandos” o glossário do desporto que pratica. É aquele que sabe incentivar e cultivar motivações extras à competição nua e crua. É aquele que sabe e diz que o cidadão está primeiro. Se um Jovem tiver bases sólidas de sustentação desportivas enraizadas na sua conduta, melhor compreenderá as suas reais capacidades e desfrutará delas como uma arma de cidadania. Saberá, ter análise critica, fruirá da superação necessária para se saber regimentar.
Aliás, congratula-me tudo isto, ademais estou todos os dias a apreender.
Treinador de Desporto / Futebol Grau II
Jorge Gonçalves