No repasto. Fred demonstrou uma particularidade interessante, que me comoveu vivamente. Levantou-se da mesa, e abeirou-se de uma máquina de discos perdidos, pegou no pericote do aparelho e amarfanhou o seu bico num disco da minha Diva Amália Rodrigues, tudo a contra gosto do bicho. Já que a pequena ave estrabouchou bruscamente, que ficou sem tino. Novamente orientado – sem parcimónia - e com o bico espetado no vinil de 33 rotações a melodia fluiu no ar com um grau de imitação da voz da Dona Amália a ocupar os quatros cantos da sala do restaurante a raiar os oitenta por cento. Confesso que é uma ave, que quando não pensa pela sua cabeça, tem dificuldade a exprimir-se muito menos a recordar. De regresso à mesa, dá-me uma caricia a alta velocidade nas costas, que me desengonçou o esqueleto e diz-me,” Esta música é para ti, sei que amas a Sra. Dona Amália Rodrigues”… Fiquei sem jeito maneira.
Fred é um bom garfo. Comeu desalmadamente. Julgo que fiz a digestão num ápice. Ainda comia, já eu fazia contas aos cêntimos que trazia no bolso. Recalcava as contas. Martelava as somas. Abastardava os cálculos. Nada feito. Não possuía escapatória possível a imaginação sabia ostentar a artimanha da situação, mas a minhas mãos não tinham capacidade de consomar o pensamento. Estava comprometido com princípios. Mas, como iria eu pagar a importância do almoço/lanche/jantar!?
Fred estava no auge e gáudio da degustação, quando surge um episódio caricato, que casuisticamente me veio a ser muito útil.
Estávamos sentados na mesa, a cavaquear… quando a Confraria da Mulata deu entrada no Restaurante “A Universalidade do Búfalo”. A Confraria da Mulata, sem se fazer convidada, invade os pastos e repastos todos – não fosse essa característica, um pastorear da sua génese e raça - e para se fazer de bonita e labaceira, entrou a abalroar o silêncio reinante. Composta por dois belos e remansos chibos e uma valente cabra, deram asas ao seu bedum de idiopatia. Um, um bom exacto… o outro, um bom edificativo passador de senhas contrafeitas. A fémea um exemplar único do pior que um animal dessa estripe patenteia, atirou-se aos demais presentes que o Fred angustiado, gracejou, “ Yabadabadoo, que cabra oferecida e descarada… parece o Garrincha”. (Para quem não sabe, Garrinha era um Jogador da Selecção Brasileira do tempo do grande Pelé… com as pernas musculadas e arqueadas, que tinha uma finta curta e sempre para o mesmo lado…)
Mantive a “pelota” à distância…
Num ápice, o Restaurante encheu-se… pois tais confrades, por onde vão e passam, pagam tudo. À grande e à Francesa. (Confidências do Fred). As notícias ruins espalham-se depressa. Como, não lhes sai do bolso, é por conta dos seus eleitores, que pagam impostos e emolumentos, fazem destas amabilidades a granel. De imediato, surgiram pedidos para “criados de calhau” ou seja empregados de mesa. Aproveitei, as novas oportunidades, emergentes, inscrevi-me e fui bafejado pela sorte… Dos presentes fui o único a inscrever-me. Era o único que não era de Bedrock. Os restantes medraram para as bandas dos três intrusos. Festanças e lambanças.
Pedi desculpa ao Fred, expliquei o quanto era importante para mim tal ritual e ele com um ar feliz respondeu-me: - “ vai amigo, ainda vou mastigar alguma coisa mais, isto foi só o aperitivo… Yabadabadoo”.
- Ok. Amigão. Atestei… esfregando as mãos de contente e aliviado.
(continua)
ALBERTO DE CANAVEZES