Que gramática?
Que figura?
Que concordância?
Que regência?
Uma pronúncia…
Sintaxe!
Eu lá quero saber de sujeitos
De posturas linguísticas
De regras
De todas as esquisitices
De preitos!
Eu sou um pedreiro de palavras
Um inculto, estulto e pouco adulto
Sou homem para levar dois estalos
E presentear quem mos deu
Com quatros cascos de… cavalos.
Eu sou grei… plebe… povo… gente
Que não perde muito tempo
A ser submisso a qualquer regente
Corrupto… abrupto…
Perante nenhum contratempo
Em algum momento.
A minha poesia
Fala do que Jesus disse da heresia
E o diabo do engulho…
Não é para ser avaliada por eruditos
Que numa frase ato num embrulho.
A teoria é o mal de todas as atoardas
Cultiva-se na inércia do dizer, sem ser acção
Ter farinha e não ter água e sal para fazer pão.
É confundir uns litros e quilos com umas jardas
E não ter borracha que decalque tantas rabiscadas.
Não sou Cristão, Muçulmano, Judeu sequer ateu…
Quero lá saber se são doutores, ou filhos da mamã
Eu sou filho de um esperma espirrado de manhã
Que meses depois acordou este espantalho que sou eu.
ALBERTO DE CANAVEZES