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domingo, 2 de outubro de 2011

O APAGÃO. OS VAMPIROS E OS MORCEGOS

Foi um êxito a última feira de artesanato. Decorreu sempre da mesma forma só com memos gente. Faltaram alguns artesões que me confidenciaram que nunca mais cá voltavam enquanto o mesmo do ano anterior , fosse o organizador do certame. Pergunteis – lhes porquê? Um rosário das Irmãs Carmelitas não chega para contar tanta queixa. Mas o que mesmo me deixou impressionado foi as caracterizações que fizeram, do principal organizador. Disse para mim próprio – o tipo está a cavar a sua própria sepultura. A sua imagem que passava as nossas fronteiras era a de um beato virgem e purificado de vez em quando acossado por uns tipos sem rei nem roque. Agora também colabora. Se minto!? Porque é que estavam uns quantos cubículos vazios? Mas o bolo com a cereja no topo teve quase, quase a acontecer, quando certo déspota bêbado que nem uma carroça. Gritou para uma mesa e disse em bom e alto som: - “despe”… “despe”… “tira”… “tira”… Se alguém se despiu não sei. Creio que não. Ainda há gente que se dá ao respeito. Nessa mesma madrugada um extra terrestre não conseguiu observar o aeródromo – a carecada na Serra do Vidoeiro para aterrar no intuito de assistir à feira. Atrasou – se devido a algum engarrafamento de tráfego e há crónica falta de sinalização das estradas e ruas… as infra-estruturas lá criadas estavam já encerradas. Por dons de telepatia conseguiu descortinar o sitio onde seria colocada uma placa fresquinha – que hoje denomina a Rua da Liberdade para Ministro ver – guiou – se pelos seus instintos e poisou no planetário do CCP. Com um grau de quociente elevado, devido ao apagão a que somos debotados a partir das três da manha. Revelou - me ter sido ajudado por um bando de vampiros que aproveitando a escuridão brincavam ao berlinde no campo de golfe com um grupo morcegos já velhotes. Como é que soube de mim!? É simples, disse - me que para os lados da arrevesada ouvia o rei de uma raça ressonar e a expressar: - “… eu vou tramar a vida ou gajo do baú da histrionia … … vai ver com quantos paus se fazem uma canoa…blá... blá... blá...”. E como o Baú da Histrionia é o blogue que mais se lê no seu Planeta – omito o nome do Planeta para não sofrer retaliações e para que não cortem as doses de caçoilos assinadas num protocolo ao abrigo de uma geminação – veio aos apalpões ter ao enclave da Lomba da Aboreira devido a um certo cheiro a mofo do baú. Tem muitas relíquias… por telestesia, captei a sua presença e levantei – me logo. O seu aspecto parecia-me feio – fixe, pouca luz - mas muito simpático. Comeu qualquer coisa. Tomou banho. Emprestei – lhe umas calças do meu sogro e um soutien da minha mãe mais uma blusa. E levando a caixa da ferramenta, fui de mansinho pela escuridão para o CCP. Só vi vampiros. Tipos porreiros. O chefe da clã ainda me abordou o pescoço mas cochichou – me ao ouvido: - “ o teu sangue não é mau, mas admiro o teu arrojo perante o dinossauro. E esse bicho tem muito mais sangue que tu. Perco agora um petisco para daqui a uns tempos ter um fausto banquete”. Grande amigo que arranjei! Hei! Os morcegos, esses eufóricos com tanta escuridão estavam em todos os complexos desportivos do concelho a viverem os seus Jogos Olímpicos. Do quanto, soube, bateram – se até hoje vinte e sete recordes do mundo… pena é que os nossos – os que nasceram cá – ficaram em último em todas as provas em que participaram. Apaguem as luzes mais cedo. Irra! Os tipos precisam de treinar mais… Nem nos, passaram, cartucho. Afoitos, descobrimos o edifício por causa da cor laranja. Arribamos ao topo do planetário. Eu ao colo do extraterrestre – sabe voar até aos cinquenta metros – e arranjamos a sua nave. Só precisava de molho de chanfana para deslocar. Aí os vampiros deram uma ajuda e correram quantos restaurantes existem pelo concelho e lá atestamos a nave. O extraterrestre disse – me o seu nome. Mas é para manter em segredo. Para surpresa de ambos e do chefe dos vampiros, detectamos uma janela aberta do último piso do CCP. Eles entraram… eu fiquei a fazer de mirone, não fosse o diabo tece-las. Saiu primeiro o vampiro. Olhou para mim e disse – me: - “Maravilhoso salão. Acesso restrito a um salão impecável por uma só escada em caracol. A sala deve levar duzentas e picos pessoas. Safam – se três ou quatro. O elevador em cena de tragédia não funciona. Maravilhoso. Espectacular. Vou definir tal característica de espaço no nosso livro de actas. Isto para nós é um festim”. Mau… pensei… eu… O que é que ele queria dizer com aquilo! Aqui há coisa. O sacana… do extraterrestre nunca mais saía. Hei! Hei! Ó meu nunca mais… sais? Num tom de voz dorido chocalhou: - “Jorge - eu ficar - entalado na escada é tão estreita…” - Lindo serviço! … Um compasso de espera … nisto subitamente aparece o meu extraterrestre. Todo cheio de gordura e a cheirar ao azedo. Bolçou todo o molho de chanfana que tinha ingerido devido ao aperto e susto. E assim resvalou de tão exíguo espaço. Deixou - me com um alerta: “o espaço é magnífico mas numa ocorrência menos agradável torna – se muito perigoso, não tem saída de emergência. Na escada só cabe uma pessoa de cada vez e o elevador não garante ser porta de evacuação.” Trouxe – me a casa. Despediu – se com uma lágrima num dos quatros olhos. Deixando pairar uma pergunta no ar: - quem efectuou tal projecto? E agora sei porque é que o segurança estacionado naquela porta não deixou no dia da inauguração lá entrar o Presidente de todos os Lusitanos. Alguém pode ir verificar tal espaço e se está em conformidade com a Lei. É que a torto e a direito o Município passa multas por isto... e aquilo... e aqueloutro... não estar nos conformes.


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Jorge Gonçalves