Já vi um burro ser burro
Antes de um jumento virar cavalo
Indo a caminho do além em sussurro
Muito de asno… a cacarejar de galo
Entre atalhos na cata do seu curro!
Condes, viscondes, ninfas e paspalhos
Abades, garanhões, plebeus até princesas
Ratos, gatos, periquitos, anões aos baralhos
Limbos que se rasgam sem velas acesas
Os que urram e testemunham sem trabalhos
Sapos e rãs que lhe fazem a vénia às avessas
Muitos já andaram no seu dorso
Amigos já dele levaram coices
Riam! Riam! Não lhe tomem o corso
Tragam alforges e muitas foices
Alimentem o bicho de palha e troço.
Ser burro e não mudar. É ser jumento
Olhem vem o quanto de bem lhe fica.
As estrelas do céu fogem do firmamento
Rindo até ao homem da fava-rica.
Então aplaudam cada momento
Sempre que ele urra, quando vê uma jerica!
ALBERTO DE CANAVEZES