Quando eu morrer
Quero os meus inimigos
A chorar baba e ranho.
Tristes. Combalidos.
Sofridos.
Quero ver a minha mulher
Vestida de vermelho
E com sete pretendentes atrás.
Feliz da vida…
Ostentando…
Numa das mãos um espelho
Gritando:
- Perde por tardia a sua partida.
Sorrindo e dançando…
De todo… em nada sofrida.
Quero os meus filhos radiantes
Concentrados a aplaudir
Cantado e saltando
Exclamando:
- O gajo desta não pode fugir.
Quero que os meus amigos
Fiquem em casa a ver televisão
De preferência a ver o S.L. Benfica
…a ser Campeão.
Quero foguetes a estourar no ar
Canas a cair no chão
Como gotas de uma chuva forte.
Quero ir despido…
E com um bocadinho de sorte
Ostentar um olhar de arrependido.
Quero ir ao toque da Fanfarra
De uma Filarmónica
De uma Tuna Académica
Quero que seja um dia de farra
Que a minha irmã fique afónica
A minha sobrinha suspire e diga:
- Liberei-me desta praga.
O meu afilhado pegue na harmónica
E toque até lhe faltar o folgo.
E o meu cunhado esfregue as mãos
E se julgue um mata-borrão.
Eu quero ser cremado…
Adubo para anexar a excrementos
Mas se me meterem no mesmo saco
Que o endeusado…
Que se lixe o pregão.
Não pensem em haver pagode
Que todos fiquem de diarreia…
Queriam-me ver-me de chifres!?
Sacanas… seus maus arbitres.
Que se encalacre o óbito.
Mesmo contrariado quero viver
Para ver o imbróglio e a folia
De o ver pagar por tudo…
Num tempo sem previsões
De meteorologia
Aonde o diabo…
Seja cego… surdo e mudo
Tudo o que sobe desce.
Com mais ou menos preguiça.
Todos os impérios caíram…
Eu quero sabe-lo…não me conturbo.
Irra! Não queriam mais nada?
Eu quero saciar a sede de justiça
Nem que seja numa fonte de chafurdo.
ALBERTO DE CANAVEZES