Agora era um tempo de nada e de tudo
Era como se o muito, fosse pouco mais que nada
Era como se o Natal fosse um dia de Entrudo
E a Pascoa um pouso de alegria na esplanada.
Era ver um judeu ressurgir de uma vala comum
A reclamar não o genocídio mas o seu número impar
Era ver um nazi retirar – lhe… o número um
E com a biqueira da bota o voltar a atulhar!
Agora era um gesto de “pelo sinal” mudo
De um moralista barrigudo vestido de fada
Olhar o relógio e dar vinte voltas ao terço – surdo
- “ Foi morto mas no reino de deus a sua alma é guardada!”
Que nada! Venham todos espreitar o inferno
Vejam o barrigudo vestido de fada
O nazi com a biqueira da bota maculada
E o judeu, ficou “aluno” no paraíso interno!
Olham o umbigo uns dos outros - penduricalhos
Vomitam ladainhas sobre os tições
Cheiram a esturro bafo de vinho de alhos
Roçam nas labaredas passos de contrições.
Malta porreirinha. Os melhores dos melhores
Mata-se em nome de Deus. Benzem a morte…
Como se uma mão tapasse a Luz dos arredores
E viver entre rezas fosse um piáculo de sorte!
ALBERTO DE CANAVEZES