VISITAS

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Haja peito para a medalha e para suster a vergonha.


(este excerto de um texto faz parte do meu Livro / Lata e latões! Escrito "há" bué de tempo).
… … ... ...
- Não sei o que mais havemos de fazer para solucionar esta tormenta que nos aflige. O dinheiro está escasso e cada vez mais estamos a viver num aperto. Se isto não mudar, só nos resta penhorar o ouro que era dos avós.
- Não, mãezinha! Isso só em último recurso. Olha, se me permitires um reparo, tens aí uma medalha de ouro, a que tu nunca deste, grande importância, e que podemos vender a um colecionador ou mesmo vender a um joalheiro.
- Não me tinha lembrado disso, Medriquinhas. Mas perece-me uma boa ideia filha. Uma boa ideia mesmo, filhota.
… …
… …
- Medriquinhas, não temos alternativa temos mesmo que nos desfazer da medalha. Não recebi o subsídio de férias e temos o seguro do carro para pagar entre outras coisitas e não temos escolha.
- Ok, mãezinha, podemos ir amanhã ao joalheiro.
- Sim, filhota mas aqui aos da terra não convém muito. As paredes têm ouvidos e as más notícias correm depressa.
- Pois havia de haver mais placas de limite de velocidade a proibir andar a mais de trinta…
- Vá deixa-te disso. Amanhã vamos à cidade e escolhemos um à sorte.
Feito isto a mãe da Medriquinhas, desencaixilha a medalha do Diploma e prepara-a, para a levar para um destino que na sua mente ainda era incerto. Ficaria aonde fosse mais rentabilizada.
Medalha linda que define a minha dedicação profissional em prol dos outros. Disse, para consigo.
… …
Estacionaram o carro junto à Loja do Cidadão… ao irem buscar o bilhete da taxa ao paquímetro avistaram uma loja que tinha como reclame, “ Ourivesaria, Penhores e afins”. Parecia ser a ocasião perfeita.
… …
(Entraram… e contaram… ao que iam).
Desensacada a medalha o senhor da loja, abonou um – Hum! Ora vamos lá ver esta!
- Mete os óculos de aumento acocorados na armação dos que usava e começou a analisar o objecto que distinguia a postura pública da mãe da Medriquinhas. Nisto, levantou-se bruscamente e gesticulando em direcção da porta, empurrou um: - Rua.
- Rua? Rua? Retorqui a mãe da Medriquinhas. Homessa!
- Sim. Isto alguma vez é ouro puro?
- Mas eu recebia como ouro. No Diploma diz que é ouro. Apre, que embaraço! O senhor é um charlatão que á minha custa quer fazer um bom negócio.
- Minha senhora não me provoque. Tome lá este bocado de sucata e vá pela cidade… inteira aos meus colegas e verifique o seu valor. Charlatão é quem lha deu como sendo ouro... ...
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(continua quando me apetecer destapar a história).
Alberto de Canavezes

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Analogias II

… …
Estava noite. O escuro imperava sobre os escombros das sombras… o breu da maresia da madrugada era espiolhado por palavras que obtinham aromas olímpicos. Deus era pronunciado “a torto e a direito”, por tudo e por nada.
Na rua era esta a sua missão:
- Deus queira que a malta vá lá dentro, traga, o dinheiro e não se aleije…
- Deus permita que só deem pelo assalto, muito tempo depois…
- Calma. Olha que acenderam uma luz. Deus queira que não nos ouçam…
- Cala-te longe vá o agoiro. Achas que Deus vai permitir que tal coisa aconteça? …
- Em ultimo caso, se quem lá estiver nos avistar, e se portar mal, nem Deus lhe vale, leva um tiro nos cornos e temos pena!
- Pois. Se tiver que ser, Deus nos ajude.
 … …
Dentro de casa era esta a sua função:
- Mau. Mau! Ouço passos lá fora… Quem será meu Deus? E creio que ouço alguém a conversar… será que estou com alucinações, meu Deus!? Deus me valha.
Se calhar é alguém a passar e eu estou a fazer filmes, Deus me perdoe.
… …
Desta pousada verbal aonde Deus fica estacionado e comprometido com a virtude do dano e o erro proveitoso, existe sempre a ambiguidade do queixume. No fracasso de uma das partes… justifica-se a causa com a sua vontade. De todo não aprecio esta jactância pardacenta de uma Igreja que se alimenta de qual for a consequência desse acto. A deidade de um dogma não se pode doar ao sujeito no seu tempo e no seu espaço, mas sim á forma desse tempo e ocupação desse espaço pelo sujeito. Ai nasce o padrão da ética e o plano da civilidade entre todos os seres humanos. Porque existem opções para sermos transeuntes agora não se faça disso um percurso paralelo, em que uma estrada tem sinalização vertical e a outra fica alheia a essa regulação. As regras e tratados são para ser interpretados com juízo não com a prudência. A prudência é o reflexo dessa propositura.  
Que leviandade perniciosa e consentida esta! Invocar "O Santo Nome de Deus" por tudo e por nada.… …
Alberto de Canavezes

terça-feira, 21 de maio de 2013

Analogias…


(excerto de um dos meus inúmeros livros pespegados na clandestinidade do meu reino de histrionias).  
… … ….
- Trochadas, hoje apetece-me ir dormir com a tua mulher!
Sobre estas palavras fez-se um silêncio comprometedor na sala de reuniões. Os condiscípulos do partido, Juntos Conseguimos Mais Sonhos, acordaram como que estremunhados de tal insónia e ficaram de boca aberta a contemplar a passividade do visado. Cochichava-se em surdina. Arrazoava-se considerandos pouco abonatórios sobre quem tinha vociferado tal aleivosia… Se não o era, parecia!? 
Mas verdade, verdadinha é que todos olhavam para o canto aonde supostamente se condoía, o, cabeça de testa de tal pretensão.
E para espanto de todos, abruptamente o preterido de sua cama, bradejou:
- Não, não vá, antes de eu mudar os lençóis!
Espontaneamente surtiu um aplauso ecuménico dos presentes que tal graciosidade deixou de ser obra do pecado para ser do pecado a obra.
Depois deste imberbe rogo, de todos, o Trochadas era o mais alegre e prazenteiro. Saiu pouco depois de se deixar ouvir um trilar “bravo”, provindo das profundezas da alma de um dos mais afaimados acólitos.
Desconfiou-se que teria ido obrar em conformidade.
… … …
Alberto de Canavezes

quinta-feira, 9 de maio de 2013

Respigos de antanho em espigas do agora…

Tenho dado comigo a basculhar o meu baú de “memórias”. E rejubilei de euforia ao sentir o quanto a historia no tempo do seu tempo se encarrega de dar tempo ao tempo.
Agreguei pedaços da história que nos enleva a patamares virtuais de universalidades ímpares. Quarenta anos de vidas de um mester…
Diz o ditado - “o pior cego é aquele que não quer ver”. E eu vi por lá uma praia fluvial anunciada com pompa e circunstancia abarracada ao “bazófias”... Mas hoje, na consistência é genuinamente “inválida”. É caso para gritar: - “Ó da Barca!”  
Vi por lá (suponho eu!?) que 90% (ou mais) de um concelho que é um Jardim algures no imo de um eucaliptal possuiu “desinfecção” básica. Se isso for baseado no primado de todos nós a pagarmos… somos um portento na sua taxação em igualdade e fraternidade. Tal evacuação é retirada de um “Poi”… que se obrou em 07/05/1987.
Em cada panfleto que anuncia o céu numa via rápida de três setas para o progresso, existem cada metáfora e desvaneios líricos que nem o maior dos comediantes ousaria agora contradizer o riso do sorriso ou o sorriso do riso que carpimos hoje. É de uma bestialidade romanesca que Charles Dickens seria entronizado nos calabouços da ignomínia literária. Pickwick, David Copperfield, Oliver Twist, Scrooge ou Thomas Gradgrindl, estariam condenados ao anonimato nos imponentes edifícios sem alma e vida existentes para os turistas verem… O grande Miguel Torga daria os “Bichos” para rejuvenescer “A Criação do Mundo” em troca de “O Senhor Ventura” ir para a “Rua”….
Mas o lindo e bonito é sermos arroteados ao tosco…
Que gracioso é este complexo de enigmas. Ter tanta coisa, anunciada… outra, tanta feita e fechada… e se tenha inventando que do outro lado só existem abantesmas, malfeitores e piratas! Que “romance” este… quando se deixou matar de morte matada e morrida o MOREP – Movimento Recreativo de Poiares. Os genuínos e espontâneos actores estavam lá.
Vejam lá, que até desse tempo tenho “almas” em peliculas, escritos, manuscritos, acessórios e afins.

Do actual:

Retiram-nos a luz da porta, para solver despesas públicas… e em contrapartida temos luminosidades radicais para os lados de uma Alameda hodierna. “Álea” que se faz tarde, “amigo”… Ou ainda fica para jogar matraquilhos?

Alberto de Canavezes

POEMA - Ruas sem alma. Gente sem história.

Uma rua sem nome é uma história sem aventura

é olhar o branco e não ver um apelido do ontem

é sentir manchada uma alma extraviada e turva…

impugnar aos dias, um conselho que nos contem.


Quando se vive numa rua sem título é ser vadio…

É não ter cidadania. Ser despido e não ser livre.


Eu vivo numa rua dessa folha. Pagina trinta e nove…

numa idade que aquartela esse sentimento

… por desprezo.

Olho-me e vejo um beijo de mágoa que me olha

E me fecunda do ontem de ontem: - esquecimento.

Alberto de Canavezes

quarta-feira, 1 de maio de 2013

POEMA - Qualquer verdade!?

Um golpe de estado foi perpetrado no corpo que me acoita a alma
hasteei uma bandeira rebelde com um emblema corsário ao vento.
Fiz-me presbítero de causas desgarradas, enxovalhadas e minorcas.
Pulei janelas, beirais e outros assomos de dejectos…
e tinha todas as portas abertas
que me podiam deixar passar
e acoitar…
debaixo de todos esses tectos!
Mas não! Eu sou assim.
Eu em mim!
Que cravo na lapela iria colocar?
Que farda militar me possuía?
Se tudo em mim era dissipar
Uma qualquer verdade que me mentia!
… … …
Alberto de Canavezes