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sexta-feira, 17 de abril de 2020

Gozar com a nossa cara, gozando Abril.


A nossa democracia é vivida de uma forma envesgada. Olha-se defeituosamente para as coisas da sua pluralidade, e agora até num ritmo de heterogeneidade gagueja-se o ser livre sendo-se dele expatriado. Existem uns: - martelos que se afiguram umas foices sem dentes que mais parecem um disco riscado e estão verdes de o saber; um bloco de coisas muito à frente que regressa à esquerda capital, sorrateiramente pelas portas dos fundos; há os que de punhos cerrados num ápice como por milagres das rosas, passam de trás para a frente e de geringonça polvilham de pétalas a república com os seus prosélitos; em que as pessoas não deixam de serem animais e a sua natureza empecilha na imbecilidade de nos impingirem alcaparraras para colocar num bom cozido à portuguesa, fonte da nossa virilidade; que por mais que lhes apontem os sete céus não possuem registos de preitos  às suas memórias. Os egos e as vaidades pessoais abrem e fecham portas como quem fica órfão por causa de um avião que cai; em que a iniciativa nos faz lembrar os heterónimos de um grande poeta liberal da nossa cultura, não sabemos com qual deles estamos a falar; que fazem do centro um stock incógnito e como partido disso o popular lenço branco acena-lhe um adeus inglório e os que num chega-chega, argúem assertivamente, mas cujos alicerces possuem muitos complexos de cidadania.
E, é esta malta que se quer juntar a comemorar o 25 de Abril – uns convictamente outros “contrariados”, mas na onda - com a necessidade de dilatar as gotículas da revolução de peito aberto e feito contra a pandemia. Cento e tal convivas, alguns com cravos na lapela e outros de toalhetes de gel no bolso para enxotar a peçonha.
Nem o boémio Bocage, seria tão jocoso e brejeiro se nos pedisse confinamentos, proibisse casamentos, batizados e outras brincadeiras com tantas ignições para dar boleia aos vírus. E depois se metesse numa farra vanguardista destas. 
Se esta classe politica tivesse um pingo de decoro e vergonha e tivesse a noção da solidariedade e do seu respeito, comemorava Abril como nós comemoramos as datas de quem mais amamos. Através das novas tecnologias. Cada um no seu espaço de intervenção política e os partidos das suas sedes.
Não me conformo com esta iniciativa quando assistimos a dores imensas e a desertos infindos de sentimentos e afectos que se esvaíram num luto que nunca saberemos fazer e compreender. Quando um cadáver numa solidão atroz, despido de lágrimas, suspiros e lamentos desce à terra. E quem ama essa alma não lhe conseguiu dar um beijo de despedida.