Um poeta é aquele que inventa
que tem uma fornalha quente
que se alimenta de palavras trocadas 
e se proclama gente
entre almas abandonadas.
Ele enfrenta com as mãos o vento
esgrime pleitos com o sol
faz das gotas da chuva um passatempo
e da lua cheia um arsenal de paiol. 
É um guerreiro de águas calmas
faz tempestades e grita em silêncio
na morte da vida ressalva palmas 
é um resistente - que eu avenço. 
Um poeta tem um umbigo imenso
uma urdidura onde expõe o pensamento 
e nunca pensa em nada
e sente tudo. 
Um poeta não tem sombra 
um poeta, usa a sombra.
Espreita de uma janela
e descobre a consonância 
debaixo das asas de uma pomba.
Olha para ela 
e sente- se criança
como sente
que os seus sonhos
vivem 
e não são gente. 
Um poeta 
é um alento ao ar
um fim… 
num inicial princípio
que de tudo faz o eixo. 
Só não sabe poetar. 
Rima 
e tem por releixo
o precipício…
ALBERTO DE CANAVEZES 
