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segunda-feira, 30 de março de 2020

A muralha e os dois lados da "civilização".


O jornal dinamarquês, Jyllands-Posten, publicou um cartoon que se assemelha à bandeira Chinesa. Ilustra o desenho do vírus num fundo vermelho, no mesmo sentido das suas estrelas.  
A embaixada Chinesa lançou um comunicado no qual destaco este excerto, “Sem qualquer simpatia ou empatia, [o desenho] ultrapassa os limites de uma sociedade civilizada e o limite ético da liberdade de expressão, e insulta a consciência humanos…”
Mette Frederiksen a primeira-ministra da Dinamarca disse que no seu país existe uma “forte tradição não só com a liberdade de expressão, mas também com a liberdade de sátira… E vamos continuar a ter isso no futuro”.

Pergunto:

O “GRANDE SALTO PARA A FRENTE” que originou a “GRANDE FOME CHINESA”, por eles apelidada “desastres naturais “não“ ultrapassa os limites de uma sociedade civilizada...”?

A anexação do Tibete não “ultrapassa os limites de uma sociedade civilizada...”?

O que aconteceu a 5 de junho de 1989 na Praça da Paz Celestial também conhecida Praça Tiananmen, não “ultrapassa os limites de uma sociedade civilizada...”? Aonde está o jovem que “bloqueou” uma coluna de tanques?

O matar toda a espécie de animais em condições indignas de higiene e salubridade pública em mercados públicos, não “ultrapassa os limites de uma sociedade civilizada...”?

O ter cidadãos presos por delito de opinião, o subjugar o povo Uigur, o “sinicizar a religião” não “ultrapassa os limites de uma sociedade civilizada...”?

O não saber o paradeiro de Ai Fen uma das médicas que tentou denunciar o surto de coronavírus em Wuhan,em Dezembro de 2019, não “ultrapassa os limites de uma sociedade civilizada...”?

domingo, 29 de março de 2020

Nada será igual. Mas podemos continuar a ser latinos orgulhosamente.


Nunca tive tanto orgulho em ser latino como agora.
A Itália, França, Espanha e Portugal por causa deste vírus dá ao mundo a conhecer a sua génese íntima. Somos aqueles que de uma forma serena temos dificuldade em insultar a nossa alma.  Não existimos sem conservar os anéis dos afectos. “La famiglia”. “La famille”. “La família”.  A família.
Itália pela voz do grande Luciano Pavarotti: - “Ti amo”.
França pela voz de Édith Piaf: - “Je t'aime”
Espanha pela viola de Paco de Lucía: - “Te amo”.
Para nós Portugueses sejamos latinos com muito orgulho pela voz da Diva Amália Rodrigues.
Estoicamente estamos a pagar um preço muito elevado por isso. Mas empiricamente esse é o nosso código genético social.  

Ao longo da minha vida tenho sido apelidado de lírico, poeta, filosofo – e demais quaisquer porcarias ou merdas – mas nunca abdiquei das minhas convicções. Sempre defendi que uma sociedade sem educação não tem futuro e hipoteca o seu presente e sem um chão de saúde não consegue salvaguardar os seus e subsistir ao imprevisto...

Os interesses económicos abalroaram a politica e tudo circula nesse diapasão.
Este sacana deste vírus veio colocar a nu a fragilidade do mundo actual que se sustenta numa politica egocêntrica que não passa de uma verborreia que ao estender uma das mãos para dar tem na rectaguarda a outra para retirar.
Para mim a Educação e a Saúde não podem ser questionadas. Uma sociedade civilizada não pode prescindir destes dois condimentos essências para a sua segurança cívica e conforto. Comparo estes dois estados a um quartel dos bombeiros. Existem lá mulheres e homens que não consignam por si o acidente, mas a ajuda premente para tal ocorrência. Estou-me a nas tintas se eles – profissionais de saúde -  nos tempos sem actividade estejam a jogar as cartas ou a coçar os anexos do umbigo. Eu quero e necessito de prontidão quando tiver um despiste no meu circuito da vida.

A nossa Constituição da República não passa de um livro de mentiras e utopias. Porque a nossa classe politica só a invoca quando interessa. Pois sistematicamente a deixa submeter a interesses económicos e a outros obscuros.
Hoje mais que nunca tenho a certeza absoluta que estou certo. E nessa ideia. Nesse estatuto não vou dar tréguas a meia dúzias de políticos situacionistas que se nos apresentam a sufrágio.

A nível autárquico não apoiarei quem se limita a seguir o guião partidário, do comodismo, da falta de imaginação, da falta de compromisso e que só pretende gerir em vez de resolver problemas. 
Escutarei com interesse quem demonstra que se preocupa com a educação dos seus cidadãos. Com a saúde dos seus habitantes. Bem com a identidade que nos absorve num espaço territorial. A sustentar este dicionário de intenções quero um plano estratégico de execução. Nem que isso me custe alguns ou todos os arraiais… uma obra de fachada…  ou um outro divertimento... ou outro engodo para nausear eleitorado. Pretendo nunca mais voltar a hipotecar festas de afectos ao que mais amo.
Também não posso concordar que nos coloquem numa jaula de tecnocratas a usufruir e partilhar de bens essenciais. 

A nível legislativo apoiarei quem demonstrar inequivocamente que a Educação e Saúde são um desígnio Nacional. E apresente uma reforma politica e administrativa que defenda que os impostos dos cidadãos são para implementar na garantia da sua cidadania plena.

A nível Europeu apoiarei quem me garantir que ser latino na Europa também tem espaço comum.

Para Presidente da Republica apoiarei uma Mulher com o carisma de minha Mãe. Necessitamos de amor, respeito e de um atributo muito especial, que ralhe com aqueles que nos enganam e nos fazem mal. Não que tenha perfil de ficar sempre bem…

quinta-feira, 26 de março de 2020

Sinopse histórica. A inversão da Rota da Seda

Quando o mundo assiste a uma proliferação de imbecis a ascender ao poder democraticamente: -  Donald Trump /USA; Boris Johnson Inglaterra; Jair Bolsonaro / Brasil; Andrés Obrador / México… … … deveremos começar a fazer psicanálise social e voltar à escola para reaprender as vogais e consoantes de uma cidadania plena. 
Quando constatamos a China a ultrapassar liberalmente em economia de mercado pura e bruta os ensinamentos de Mao Tsé-Tung. A Rússia de Josef Stalin, Leon Trótski… e que tanto absorveu dos Prussianos (Alemães) Karl Marx e Friedrich Engels a renegar o comunismo por uma faceta de solipsismo de activismo oligarca. O mundo regrediu em convicções para o bem e para o mal e cresceu em teses para o mal e para o bem.

Quando a EUROPA após o apagar das cinzas da segunda guerra mundial e consolidou a sua regeneração nunca mais conheceu lideres com o perfil de Estadista da dimensão de Winston Churchill, Charles de Gaulle, Willy Brandt, Olof Palme, Margaret Thatcher e Mikhail Gorbatchov … soçobra a líderes regionais.
Quando presenciamos a queda do muro de Berlim, o fim do Pacto de Varsóvia e consequentemente o desmoronamento da União Soviética vários países de Leste adquiriram a sua identidade e histórica.  Eclipsou-se a “cortina de ferro”.
O que num contexto de concatenação politica originou que o mundo ficasse coxo. Ficou só com a OTAN - Organização do Tratado do Atlântico Norte, que para mim foi sempre mais que uma aliança militar.
O velho continente, viu crescer a União Europeia com pressa demais.  Ela aglutinou países que ainda estavam a aprender andar sozinhos. Caso daqueles que viveram sob o jugo da URSS. E nesta amalgama de nos querermos abraçar a tudo e a todos a Europa complexou-se, equivocou-se e ajoelhou-se por redenção e por sedução, perdendo os seus ascendentes culturais idiossincráticos. Neste papel de alheamento de si própria a Europa viu nascer: - casamentos políticos (em que os noivos nunca namoraram, sequer se beijavam, ou em serões de mais entusiamo, acasalaram); absolutismos económicos, impulsos regionais; movimentos xenófobos; cerimónias racistas, êxodos descontextualizados e a Inglaterra a voltar de regresso ao seu Reino Unido.

E nesta espiral de bem e mal, Portugal assalariou-se. E nessa pedinchice… polvilhou-se de “garotos de bem” com uma obediente frequência partidária e uma catequese de améns cegos. Espalhando-os pelos quatro cantos do nosso mundo repúblico. Alguns chegaram alto e desse pedestal miram-nos com desdém. E dessa altiva postura tornaram-nos escravos de interesses. Grupos operacionais tomaram de assalto vários sectores de influência e de actividade. Ouvem-se em tudo o que é opinião. E tornaram-se braços armados de agenciamentos.  
Existem gerentes que mais não fazem que é roubarem-nos a dignidade individual e colectiva. Alegando reorganização, despedem-nos. Alegando modernices, imutam cenários…   E essencialmente com os vencimentos dos que despedem organizam orgias e distribuem pornograficamente esses dinheiros por si e os demais salafrários que os acompanham.
E vamos engolindo várias mentiras repetidas – é esse o guião – que com a fluidez que circulam se tornam verdades e verdadinhas absolutas.
E neste cozido vamos marinado estupidamente. Sem lucidez social. Sem resistir. Sem   brio nem dignidade.

Com uma Europa a correr o perigo de se estigmatizar a si própria correndo o risco de se desfazer… e Portugal a ser sedado por Pinóquios policromados. Avistamos a China com um ar de puta sabida a oferecer-nos o seu corpo. Corpo esse que está nos antípodas de tudo o que defendemos, respeitamos e amamos. Esta pandemia não é só o vírus que nasceu nos mercados selvagens de Wuhan que nos obriga a pagar um preço muito elevado – almas – é também o ópio que cegamente snifamos ao pedir socorro a quem nos meteu nesta alhada.... Aliás o único carreiro disponível. Espontâneo? Premeditado?  
Isto vai-nos levar a um novo ciclo nas relações internacionais. No fim de dessecar a Europa e regular o seu mercado económico a seu belo prazer a China vai interagir com o continente africano de uma maneira mais incisiva e controladora de mesmo modo o fará com alguns países da Asia menos vigorantes. Tem disponibilidade e sente que a Europa os "abandonou"...  E escusado será preconizar os efeitos nefastos que advirá disso para todos nós.
Só há um país no mundo que sairá desta pandemia com poucas interrogações. Poucas questões por resolver. Mais consolidado.
Se havia uma muralha nele que o defendia agora expande-o sem fronteiras. A Rota da Seda, inverteu-se.

terça-feira, 24 de março de 2020


UMA POÇÃO DE HUMANIDADE.

Trecho 6 / Março, 24 de 2020

O caracol cuja velocidade de ponta atinge 0,047 km/h em média é um ranhoso do caraças. A “casa” que trás ás costas representa o seu esqueleto e é feita de calcário a qual pesa pouco mais que um terço total do seu arcaboiço. Os tipos não ouvem. Sendo o tacto e o olfacto os seus guias directores. Pouco enxergam com os olhos que estão instalados nos “cornos” maiores. Os órgãos genitais ficam paralelos à boca acompanhados das “válvulas” que bombeiam o ar cujos depósitos estão dentro da carapaça. 
Além de serem moncosos os pacholas são dorminhocos. Podem ter sonecas de três anos o que representa 10% da sua longevidade.
Podem ser carnívoros – minoria - como herbívoros e adoram noitadas. São vorazes tendo como barómetro a humidade e as estações do ano. E possuem um espirito nutriente tipo camelo nas temporadas secas.
São animais hermafroditas. Cada um possui uma pilinha e uma pipi, mas mesmo assim precisam de um parceiro para fazer a cópula e se difundirem. 
Há quem os coma. A caracoleta (Helix aspersa) de jardim é a mais comum entre nós e a que nos causa mais estragos nas cartas que são depositadas nas caixas de correio. E há outros que os usam na pele sem o saber. Possuem enzimas que reparam e cicatrizam as rugas além de serem hidratantes e antioxidantes. No mercado existem inúmeros produtos de cosmética com a sua comparência.
A nossa classe politica está empestada destas azémolas. Ambulam au ralenti. Arrastam-se por longas sonatas no sistema politico. São de uma enfadonha estrutura e de uma patologia congénita a que poucos dos cinco sentidos escapam. Nunca sabemos o que representa o estojo que comporta a língua e os dentes.  Se o gargalo de um depósito de ar contaminado ou um órgão produtor de petas, aldrabices e afins.
E como no meu jardim só por lá circulam os caracóis que deixo e consinto. E ao desabafar com esta sinceridade espero não aPANtufar uns iluminados que comeram de toda a porcaria para cá chegarem e agora dizem-se veganos ou vegetarianos. Numa figura de estilo que abranja os dois requintes gastronómicos , digo que são uns alfacinhas borbulhentos. Que no meu calão alimentício é o mesmo que: - copinhos de leite. Os quais se esquecem que a ração de alguns animais possui carne de alguns parentes dos bichos. Partindo de o pressuposto de todos também serem primos e primas, como nós. Tenho que acrescentar que não me incomoda que os tipos não comam carne e os derivados dos animais. O que me chateia é censurarem-me a que eu herdei e me satisfaz plenamente fazendo de mim um rapaz espadaúdo, rosado e corado.
A fase colectiva que atravessamos não se parece nada com a aparência do meu jardim e muito menos com o da Celeste. E como é uma evidência insofismável, creio que após esta tormenta que nos murcha muitas flores do nosso logradouro nada jamais será igual. Não o podemos permitir.


(a "coisa" vai seguir).

segunda-feira, 23 de março de 2020


UMA POÇÃO DE HUMANIDADE.

Trecho 5 / Março, 24 de 2020

Existem sempre umas páginas na nossa vida que se viram e nos deixam um vazio. Não que nelas não tenhamos vivido algo intenso, mas porque sentimos a necessidade que elas nos entreguem a um escudete. De nos olharmos. De nos harmonizarmos.
Ao longo da minha vida idealizei sonhos. Vivi as suas realidades, também. E habitei as duas vertentes das causas que definem o adequado e o inadequado. Obviamente que sim. Apliquei o que de melhor de mim personifica o oitenta e o oito mil nos campos das interpretações. Não me quedo em lado nenhum em que esse terreno nada me enuncie. Não sei fingir. Sou incapaz de pensar uma coisa e dizer outra. E, no entanto, existe sempre quem saiba mais de mim, que eu próprio.  
( Vitimização!?   Mitigação!? - Escolham. Das duas hipóteses, eu escolho outra... )     
Não tenho amigos, amigos de grandes folias e motejos. Possuo no meu portefólio social, pessoas que se relacionam comigo. E dessas existem quem me passe cartuxo, quando as minhas convicções lhes dão proveito. E varia conforme a cadência dos acontecimentos e interesses. O que para mim não me desvirtua, tão pouco me entusiasma. Como sempre digo: - eu em mim!
Nestes últimos tempos por motivos de debilidade – a C6 – tenho-me retido em casa. A dormência e falta de sensibilidade são uma sina muito pesada para quem sempre teve da sua profissão uma noção de uma actividade social. Ser carteiro, preenche-me a alma e faz de mim um homem muito bem resolvido profissionalmente. A vontade pede-me para estar no activo neste momento tão difícil para todos nós, mas o corpo estadeia inumeráveis reticências. Penitencio-me austeramente por isso. Embora apeado do verdadeiro cenário da guerra, porque estou por casa, tenho vivido esta tormenta com olheiras.
Sinto-me enjaulado pela enfermidade e prisioneiro do pouco truísta “COVID 19”. Sinto que os meus canários - mesmo na gaiola - são mais livres que eu. Desconfio que o Elvis e a Panchita não desconfiam porque estou por casa. Ambos latem. O Elvis um lavrador. A Panchita uma rafeira. Na hora da refeição – cinco e trinta – julgo ouvir o ZÉ Cabra nele e a Maria Leal, nela. Fico dissonante, integralmente consumpto. Limpo o cárcere de cada um, deixando-os azeitadinhos. Creiam, que faço tudo, para os perros não se aperceberem das causas que me parqueiam em casa. A coluna … e são colunas que os separam… os animais sabem que eu sou um bom progenitor. Já conhecem os meus cinco filhos. Não os quero a seguir a minha fertilidade, pois eu já sou um teso do caraças e mais bocas cá em casa era um grande rombo.  Ele e ela, ambos - são virgens. Pavoneiam-se. Ela deve-lhe dizer, “tenho-a aqui, mas toma lá só um cheirinho” … e ele, “o que tu queres, dá-te uma mijinha” ….  
Não sei se os deixe fornicar. Admito que ultimamente tenho pensado muito nisso. Pois sempre ouvi dizer que “até os bichinhos gostam”.  E isso é um quiproquó que no futuro me pode trazer alguns dissabores. Não vá um gaijo saber para onde vai e aonde pode ficar apeado …. Entrementes há uma Sede em Roma que perdoa quem cometeu pecados e morre hodiernamente hediondamente. Actualmente é sempre uma recomendação que nos tranquiliza. Existem decretos que são feitos para uma coisa, mas abrangem outras agendas em tempos de guerra e solidão…. suportam de bula e gula. Espero que por eu me deleitar imenso com aquilo que julgo que eles gostassem, não seja penalizado por não proporcionar essa conexão aos dois. Hoje como estamos de quarentena e somos quatro cá em casa sem trabalhar, temos outras preocupações. O dinheiro é pouco para nós e eles também comem. Nós não temos o ouro e usufruirmos de ostentação de riqueza como alguns que andam sempre de mão estendida. Não sou masoquista, mas sou obrigado a reconhecer que de vez enquanto também contribuo para esse peditório. É intrigante saber para que serve isso agora.
… … …  
É um dilema impetuoso não seguir a tentação de sair de casa e ir abastecer os carros da família a umas bombas de gasolina. Agora que a economia parou e as rodovias ficaram desertas as bombas sofrem de uma guerra sem quartel. Milhões de popós pararam e por incrível que pareça engodam-nos com preços cada vez mais pequenininhos. Só pode ser gozo! 

(a "coisa" vai seguir).

sexta-feira, 20 de março de 2020


UMA POÇÃO DE HUMANIDADE.

Trecho 4 / Março, 21 de 2020

Existem sonhos e neles pesadelos. No sonho, há “… um desejo reprimido…” (Freud). Para Jung, o seu “… conjunto de imagens…” parece uma herança.
O pesadelo é um devaneio penoso. Um distúrbio para o qual temos de arranjar uma solução.
E acordados, havemos de arranjar uma solvência para um obsceno patife que sendo invisível nos condicionou os cinco sentidos dos afectos. Aliás, sequestrou-nos... por motivação nossa. Senão, corremos a enfermidade de o ver derrubar sem trincheira quem mais bem-queremos. Esse minúsculo bicho covardemente se infiltra no nosso corpo, corroí-nos a alma e ainda se consola de nos ludibriar os nossos passos. Nunca sabemos quando nos pode apanhar. A flagelação de nos aprisionarmos em casa mitiga a sua propagação. Mas o gaijo espreita de manhoso ao primeiro descuido ou ansiedade descontrolada para nos agredir, reprimir, restringir e afligir, de forma sintomática. A sua fisionomia sem corpo tenta-nos outorgar o rosto de homicida, parricida… O cabrão é mesmo um grande filho da puta.
Por falar em tal filho, lembrou-me de um episódio que vivi em Sabouga numa festa ao seu padroeiro Santo Inácio de Antioquia – (“Bispo e mártir, foi discípulo de São João e sagrado bispo por São Pedro e morto no Coliseu de Roma, devorado por leões”. Nasceu na Síria (?) e morreu em Roma a 6 de julho do ano 108, depois de Cristo. No calendário litúrgico a sua memória celebra-se a 17 de outubro). Confesso que é um enigma que não consigo descodificar, como justificar a sua presença.
Passando o sagrado para voltar ao profano e neste ao mais ordinário calão, Sabouga celebrava a sua festa na penúltima semana de julho de cada ano. Numa dessas festas, inicio dos anos oitenta um bebedolas por “dá cá aquela palha” apalpou as mamas a uma prima minha e retardou retirar as manápulas de tal peito inspirador. Apercebendo-me de tal episódio abordei o meliante e interroguei-o:
- Estás parvo ou quê!?
O gajo com uma desfaçatez, retorquiu:
- Tem calma que eu sou um grande filho da puta. Mas a minha mãezinha não tem culpa, já morreu.
A minha prima completamente fora de si, puxa da culatra atrás e aplica-lhe um sopapo, que o fez tombar.
Levanta-se de dedo em riste e exclama: - Tu tens coragem de bater mais ao filho da minha mãezinha?
- Não. És órfão. Judiciou-o.
Ao filho da puta de apelido 19 que nos atormenta nem isso lhe vale. Estafermo dum cabrão. … … …

(a "coisa" vai seguir).


UMA POÇÃO DE HUMANIDADE.

Trecho 3 / Março, 20 de 2020.


O Instagram, Facebook, Twitter, WhatsApp…. fazem o longe ser perto e o perto já ali. E assim vamos abraçando a saudade por um olhar de ver. E vamos passando o tempo.
A época que vivemos hoje faz-nos ser mais meditabundos e capacitar que andamos arredados das verdadeiras causas familiares e comunitárias. Sofremos nós os humanos… mas a natureza aproveita para se regenerar… E neste interlúdio, as memórias assolam-nos.   
Em 1973 havia um folhetim radiofónico “Simplesmente Maria” que parava a povoação de Sabouga pela hora do almoço. O rádio do Ti Ferreira era sintonizado na Quintã. E abrangia a povoação quase toda. O enredo era a sobremesa social de uma comunidade recolectora.  Alberto um galã citadino e Maria a provinciana que procurava um novo estatuto… foi um arco-íris no enlevo romântico que caracterizava a paisagem humana e natural da aldeia. O tempo que durava a audição os “ais” e o “ui” das mazelas de cada um, era substituído pelo balar das ovelhas e berregar das cabras tendo como compasso mais melódico o chilrear dos passarinhos.  A minha Tia São era uma fã da Maria que a família do Alberto para ela não passava de uns “grandes cabrões …”. Pelas súplicas dela, “todos os coriscos” que os pudessem “abrasar” eram poucos. Fascinava-me a conjugação de enredos que estendido numa paveia de fetos, debaixo de uma latada de uvas morangueiras – que aroma - deleitava-me atónito. O pátio da minha Tia São era o ponto de encontro da malta que vinha passar ferias. O mês de agosto polvilhava de irreverência toda a comunidade. Os namoricos aconteciam. As arvores de fruto eram abalroadas. Os capoeiros de quando em vez perdiam o seu líder ou a galinha mais poedeira. Que em surdina ouvíamos relatos das ocorrências culpando a raposa, javalis e “outras aves raras”.
Na eira do povo dançávamos ao som da grafonola do meu Pai e a folia sobrevinha de uma maneira tão inocente que o pecado maior nascia por não haver luzência artificial. Estar e ser desalumiado, sobrepunha-se.  Quando o sol se punha e a lua aparecia, o candeeiro a petróleo ou o gasómetro, significavam luz e passos mais alinhados.  
Os rebanhos de cabras e ovelhas eram inúmeros. Eram dezenas e dezenas de cabeças de gado. Preenchiam todas as ruas numa algazarra que faziam de todos nós – urbanos imberbes – pastores marionetes. Quem nos manipulava – os anciãos - fazia-o com tanta maestria que parecíamos profissionais da coisa.  Cada um com um cajado e o seu farnel numa cesta íamos até à Serra do Bidoeiro, deslumbrar o panorama e descobrir as suas belezas e história.  
… … …
E a história de hoje é uma novidade…, mas a memória que ela transporta e que nos trouxe até aqui, obriga-nos a atravessar um caminho de ferro que nem sempre nos deixa parar em todos os seus apeadeiros. Mas mesmo assim existe a necessidade de lembrar uma placa que é comum a todos, que nos informa: - “Para. Escuta e Olha”.   
… … …

(a "coisa" vai seguir).

quarta-feira, 18 de março de 2020


UMA POÇÃO DE HUMANIDADE.



Trecho 2 / Março, 18 de 2020.

Pelo trecho anterior, jóquei após jóquei, ficaram sempre apeados e desatualizados. E nós na sociedade actual celebramos contratos, estabelecemos regras, fazemos contas, idealizamos o futuro e tudo isso fica numa total insciência. Fica nos apeadeiros dos interesses, dos cânones do mercadejado e acima de tudo numa peneira que após a malha nos separa do trigo e do joio.
Em Sabouga havia a eira do povo sitiada num terreno do meu avô Adriano e Avó Felismina. O meu avô foi um homem que foi protagonista na primeira guerra mundial (1914/1918) e foi dado como morto numa trincheira. Foi um dos bravos do pelotão que quando regressou, “vivinho da costa”, trazia a toxicidade entranhada no corpo que lhe originou alguns estados de humor que o afligiram até fechar os olhos. Tenho dele, quando vinha passar férias de Marco de Canavezes uma imagem de repolhudo. Tinha um barrete de lã com uma bolinha a fazer de testo, sempre na careca… e pediu-me a minha metralhadora de brincar para se lembrar de mim e da sua guerra. Ficou exposta à cabeceira da cama e em troca deu-me um sachinho de jardim que ainda hoje o possuo.  A minha avó era uma mulher franzina. Uma paz de alma e uma mulher ao nível da padeira de Aljubarrota nas suas tarefas de mãe, domestica, agricultora e pastora. Tinha um bigode farfalhudo e um olhar de uma melancolia que me faz lembrar a Mona Lisa de Leonardo da Vinci. Falo da década de 1960. Era um pirralho.
Nessa eira, há uma oliveira que tem enraizada em si uma história que se viveu nas invasões francesas. Na, sua narrativa existe reparos a lugares da Freguesia de Lavegadas (1811). …
Diz a lenda que o exercito francês veio a Sabouga fazer uma pilhagem na procura de valores e alimentos. O povo escondeu-se pelos quintais e Serra do Bidoeiro, mas conseguiram sequestrar uma mulher desprevenida. Tiraram-lhe a roupa… deixando-a pendurada nela pela cintura. Tendo os soldados de Napoleão coagindo a pobre coitada e ouviu-se: - “Ó Maria, anda que já se foi embora o inimigo”. Nada conseguiram. Deixaram um rasto de esbulho e ainda dois tiros na porta do padre… hoje a casa do meu padrinho Albertino.
E nesta amalgama de episódios que vivi e me disseram que foi vivido, constato que a história evolui imenso e que cada vez menos temos tempo para nos aprovisionarmos de defesas e olhar de frente os inimigos olhos nos olhos na luta pela sobrevivência.
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(a "coisa" vai seguir).


Neste tempo de incógnitas – inimigo invisível - numa certeza absoluta – entes / família / sociedade – vou tentar escrever textos (sempre que a alma me cative a razão e esta a vontade) do que fui /sou, o que eramos, o que somos e vamos ser.

Trecho 1 / Março de 18 de 2020.

Uma poção de humanidade.

Ao longo destes últimos anos, temos sido “vacinados” por um pacote de medidas que tem como factor primordial a economia. As pessoas foram subjugadas a causas provenientes do esforço do seu trabalho em detrimento do património que lhe aplicam. Passaram para segundo plano.
Os partidos políticos continuam “escravos” da mesma teoria do século passado. O mundo como realidade constante superou-se e tem a cada dia que passa uma nova vertente de conhecimento e aptidão. Galopa depressa demais para os cavaleiros que tem disponíveis na cavalariça. E esses e estes, começam a ser de um prazo de validade de curto tempo. Entretanto como se começa a correr apressadamente o coito que protege a puro sangue é descuidado e começam a haver cruzamentos que outorga jericos e mulas a preencherem os estábulos.   
Na minha juventude na linda aldeia de Sabouga fui o escrivão dos velhinhos dessa altura. Escrevi carta pelos dados que eram lançados das cordas vocais do Ti Ferreira e da Ti Ermelinda; da Ti Clementina e do Zé Augusto; do Ti Zé das Barreirinhas e da Ti Maria… para os seus familiares que se espalharam por França, Luxemburgo e Suíça.  Eram os analfabetos que conhecia, mas com uma sabedoria de trindade – local, nacional e universal -  impares e únicas. Eram de uma mordacidade empírica. De uma subtileza platónica. De um pensamento cartesiano brilhante.  De uma escola peripatética de casa para o quintal que Aristóteles era um principiante ao pé dos meus heróis amados. Recebi a sua mensagem colava no papel. E depois da carta fechada assunto encerrado. Havia tempo para absorver os tempos e a realidade que cada um viveu e vivia. Hoje ao lado dos meus filhos sinto-me um apedeuto e a ver os meus netos um boçal. O tempo, como dizia, galopa muito depressa e o jóquei está sempre a cair do cavalo. E a cada queda, quem o substituiu faz do outro um faneco que fica fora do baralho. 
… … …


(a "coisa" vai seguir).

quinta-feira, 12 de março de 2020

Pirueta estratégica.

Ouvi uma personalidade da APIN numa rádio local a dizer que era muito mau Penacova sair do seio da associação. Penacova personificava na pessoa do seu Presidente do Município a liderança. Ontem o líder distrital do seu partido – não me apanhou desprevenido – exibe uma proposta na Assembleia Municipal de Penacova, onde é presidente, no sentido de a abandonarem. 
Uma pirueta politica que açoitou de transe a confiança no reino socialista. Existem muitas interpretações a retirar desta amalgama de conflitos institucionais. Umas não deixarão de se tornarem meras especulações. Outros abetesgados exercícios retóricos. Mas factualmente existem evidências que ninguém pode escamotear que embutiram no areópago politico uma balbúrdia que pode ter efeitos muito nefastos para algumas candidaturas / recandidaturas nas próximas eleições autárquicas.

O líder distrital:
1.       O líder distrital do Partido Socialista “desautorizou” neste processo os autarcas de Vila Nova de Poiares, Lousã e Gois.
2.       O líder distrital do Partido Socialista deu a mão a um autarca, declinando-a a outros três.
3.       O líder distrital do Partido Socialista proporcionou uma “influência” numa associação que se pretendia apartidária, originando a saída de um dos seus membros.
4.       O líder distrital do partido socialista está em fim de ciclo.

O Presidente da Assembleia Municipal:
1.   O Presidente da Assembleia Municipal de Penacova suspendeu a reunião… no intuito de descodificar a revolta popular e os seus lideres.
2.   O Presidente da Assembleia Municipal de Penacova interpretou a conjuntura – e da sua ausência aquando da votação para aderirem à APIN – fez de uma forma holística a presença que deu pulso à única moção vitoriosa.
3.       O Presidente da Assembleia Municipal de Penacova salvaguardou o sossego e manutenção do Órgão Executivo até ao final do mandato.
4.     O Presidente da Assembleia Municipal de Penacova arrecadou o aplauso mais longo que se registou na sala. 

O Candidato:
1.       Se o candidato em 2021 do Partido Socialista for alguém do actual elenco do Órgão Executivo aparecerá muito fragilizado.
2.      Creio que a distrital do partido socialista terá outro líder.
3.   Creio que pelo Circulo Eleitoral de Coimbra aparecerá um novo membro na Assembleia da Republica. 
4.      E nasceu o candidato ao Município nas eleições de 2021 pelo Partido Socialista.  

No meio disto tudo, surpreendeu-me que a oposição nunca o tenha questionado em plena Assembleia Municipal do que pensava sobre a APIN, após a falta que deu no dia da sua aprovação.

Inacreditável o aproveitamento politico de uma situação em que foi conivente com tudo. A sua falta de comparência no dia em que foi aprovado a adesão e o seu silêncio posteriormente... deu aso a uma postura de tacticismo politico execrável.