UMA POÇÃO DE HUMANIDADE.
Trecho 5 / Março,
24 de 2020
Existem sempre umas páginas na
nossa vida que se viram e nos deixam um vazio. Não que nelas não tenhamos vivido
algo intenso, mas porque sentimos a necessidade que elas nos entreguem a um
escudete. De nos olharmos. De nos harmonizarmos.
Ao longo da minha vida
idealizei sonhos. Vivi as suas realidades, também. E habitei as duas vertentes das
causas que definem o adequado e o inadequado. Obviamente que sim. Apliquei o
que de melhor de mim personifica o oitenta e o oito mil nos campos das
interpretações. Não me quedo em lado nenhum em que esse terreno nada me
enuncie. Não sei fingir. Sou incapaz de pensar uma coisa e dizer outra. E, no
entanto, existe sempre quem saiba mais de mim, que eu próprio.
( Vitimização!? Mitigação!? - Escolham. Das duas hipóteses, eu escolho outra... )
Não tenho amigos, amigos de
grandes folias e motejos. Possuo no meu portefólio social, pessoas que se
relacionam comigo. E dessas existem quem me passe cartuxo, quando as minhas
convicções lhes dão proveito. E varia conforme a cadência dos acontecimentos e
interesses. O que para mim não me desvirtua, tão pouco me entusiasma. Como
sempre digo: - eu em mim!
Nestes últimos tempos por
motivos de debilidade – a C6 – tenho-me retido em casa. A dormência e falta de
sensibilidade são uma sina muito pesada para quem sempre teve da sua profissão
uma noção de uma actividade social. Ser carteiro, preenche-me a alma e faz de
mim um homem muito bem resolvido profissionalmente. A vontade pede-me para
estar no activo neste momento tão difícil para todos nós, mas o corpo estadeia
inumeráveis reticências. Penitencio-me austeramente por isso. Embora apeado do
verdadeiro cenário da guerra, porque estou por casa, tenho vivido esta tormenta
com olheiras.
Sinto-me enjaulado pela
enfermidade e prisioneiro do pouco truísta “COVID 19”. Sinto que os meus
canários - mesmo na gaiola - são mais livres que eu. Desconfio que o Elvis e a Panchita não
desconfiam porque estou por casa. Ambos latem. O Elvis um lavrador. A Panchita
uma rafeira. Na hora da refeição – cinco e trinta – julgo ouvir o ZÉ Cabra nele
e a Maria Leal, nela. Fico dissonante, integralmente consumpto. Limpo o cárcere
de cada um, deixando-os azeitadinhos. Creiam, que faço tudo, para os perros não
se aperceberem das causas que me parqueiam em casa. A coluna … e são colunas
que os separam… os animais sabem que eu sou um bom progenitor. Já conhecem os meus
cinco filhos. Não os quero a seguir a minha fertilidade, pois eu já sou um teso
do caraças e mais bocas cá em casa era um grande rombo. Ele e ela, ambos - são virgens. Pavoneiam-se.
Ela deve-lhe dizer, “tenho-a aqui, mas toma lá só um cheirinho” … e ele, “o que
tu queres, dá-te uma mijinha” ….
Não sei se os deixe fornicar. Admito
que ultimamente tenho pensado muito nisso. Pois sempre ouvi dizer que “até os
bichinhos gostam”. E isso é um quiproquó
que no futuro me pode trazer alguns dissabores. Não vá um gaijo saber para onde
vai e aonde pode ficar apeado …. Entrementes há uma Sede em Roma que perdoa quem
cometeu pecados e morre hodiernamente hediondamente. Actualmente é sempre uma
recomendação que nos tranquiliza. Existem decretos que são feitos para uma coisa,
mas abrangem outras agendas em tempos de guerra e solidão…. suportam de bula e
gula. Espero que por eu me deleitar imenso com aquilo que julgo que eles
gostassem, não seja penalizado por não proporcionar essa conexão aos dois. Hoje
como estamos de quarentena e somos quatro cá em casa sem trabalhar, temos
outras preocupações. O dinheiro é pouco para nós e eles também comem. Nós não
temos o ouro e usufruirmos de ostentação de riqueza como alguns que andam
sempre de mão estendida. Não sou masoquista, mas sou obrigado a reconhecer que de
vez enquanto também contribuo para esse peditório. É intrigante saber para que
serve isso agora.
… … …
É um dilema impetuoso não seguir
a tentação de sair de casa e ir abastecer os carros da família a umas bombas de
gasolina. Agora que a economia parou e as rodovias ficaram desertas as bombas
sofrem de uma guerra sem quartel. Milhões de popós pararam e por incrível que
pareça engodam-nos com preços cada vez mais pequenininhos. Só pode ser gozo!
(a "coisa" vai
seguir).