UMA POÇÃO DE HUMANIDADE.
Trecho 4 / Março,
21 de 2020
Existem sonhos e neles
pesadelos. No sonho, há “… um desejo reprimido…” (Freud). Para Jung, o seu “…
conjunto de imagens…” parece uma herança.
O pesadelo é um devaneio
penoso. Um distúrbio para o qual temos de arranjar uma solução.
E acordados, havemos de
arranjar uma solvência para um obsceno patife que sendo invisível nos
condicionou os cinco sentidos dos afectos. Aliás, sequestrou-nos... por
motivação nossa. Senão, corremos a enfermidade de o ver derrubar sem trincheira
quem mais bem-queremos. Esse minúsculo bicho covardemente se infiltra no nosso
corpo, corroí-nos a alma e ainda se consola de nos ludibriar os nossos passos.
Nunca sabemos quando nos pode apanhar. A flagelação de nos aprisionarmos em
casa mitiga a sua propagação. Mas o gaijo espreita de manhoso ao primeiro
descuido ou ansiedade descontrolada para nos agredir, reprimir, restringir e
afligir, de forma sintomática. A sua fisionomia sem corpo tenta-nos outorgar o
rosto de homicida, parricida… O cabrão é mesmo um grande filho da puta.
Por falar em tal filho,
lembrou-me de um episódio que vivi em Sabouga numa festa ao seu padroeiro Santo
Inácio de Antioquia – (“Bispo e mártir, foi discípulo de São João e sagrado
bispo por São Pedro e morto no Coliseu de Roma, devorado por leões”. Nasceu na
Síria (?) e morreu em Roma a 6 de julho do ano 108, depois de Cristo. No
calendário litúrgico a sua memória celebra-se a 17 de outubro). Confesso que é
um enigma que não consigo descodificar, como justificar a sua presença.
Passando o sagrado para voltar
ao profano e neste ao mais ordinário calão, Sabouga celebrava a sua festa na
penúltima semana de julho de cada ano. Numa dessas festas, inicio dos anos
oitenta um bebedolas por “dá cá aquela palha” apalpou as mamas a uma prima
minha e retardou retirar as manápulas de tal peito inspirador. Apercebendo-me
de tal episódio abordei o meliante e interroguei-o:
- Estás parvo ou quê!?
O gajo com uma desfaçatez,
retorquiu:
- Tem calma que eu sou um
grande filho da puta. Mas a minha mãezinha não tem culpa, já morreu.
A minha prima completamente
fora de si, puxa da culatra atrás e aplica-lhe um sopapo, que o fez tombar.
Levanta-se de dedo em riste e
exclama: - Tu tens coragem de bater mais ao filho da minha mãezinha?
- Não. És órfão. Judiciou-o.
Ao filho da puta de apelido 19
que nos atormenta nem isso lhe vale. Estafermo dum cabrão. … … …
(a "coisa" vai
seguir).