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sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Dia 15 antes do Natal

… … … … … … … … … … … … … Uma folha de Outono. Vai rebolando pela rua. Deambulando de lá para cá. Seca em fim de estação… O vento sopra-a e ela conta com ele para a levar para longe. Sente-se triste, despojada de toda a sua vivacidade. Pondera desaparecer… sente-se uma inútil. Um sopro inerte de uma vida longínqua.


No passeio ouve-se um sotaque de um caminhar sereno e infantil de uma menina, triste. Chora. Assenta-se no lancil do passeio. Metendo a cabeça entre as pernas e as lágrimas caem em cima da folha seca. Gota a gota a folha seca sente frio, e firme no chão. A menina, olha-a e pega nela com uma delicadeza, escoando as suas próprias lágrimas. E com ela no regaço, desabafa:


“- Eu queria ser como tu. Livre. Esvoaçante ao ar. A saltitar de um lado para o outro e sentir os meus cabelos ao vento e ter nascido na Primavera. Na Primavera, tudo se torna embrião. Como um feto na barriga de uma mãe. Aparecestes como que envergonhada. Crescente no calor dos raios do sol. Na humidade do luar. Aguentaste ao vento. Resististe ao frio. E fizestes duas estações do ano cheio de cor e alegria. A Primavera e o Verão. E agora testemunhas outra estação – o Outono - na tua queda, no andar pelo chão até advir outra. O tempo das chuvas, iguais às minhas lágrimas. O Inverno. Estou muito triste, sabes? Deveras triste. Eu queria só ter metade da tua galhardia para poder saber viver como tu. Olho para ti e tu não és morta. Tens vida. Tens sentido de um olhar por cada etapa da tua presença. Será que eu consigo fazer o percurso da minha vida como tu!? Se hoje choro porque não sei como vai ser o meu futuro. Ouço falar aos meus pais que a vida está difícil… cada vez vejo mais meninos com fome. Olhos os meus pais com mais cabelos brancos e menos sorrisos nos lábios. E hoje dividi o meu pão do lanche por mais dois meninos. O que é que os homens e mulheres fizeram nos quatros tempos da sua vida? Eu sou uma criança mas vou crescer os outros três tempos da minha vida. Qual deles será: O Verão? O Outono? Ou o Inverno!? É triste que os adultos não se lembrem do meu futuro como a natureza do teu…


Vou-te levar comigo, entre as páginas do primeiro livro da minha vida. Aonde estão as minhas primeiras letras, as vogais” Nisto abre o caderno da escola, em folhas já escritas e tranquilamente coloca a folha seca espalmada entre elas dizendo: “- não quero que me respondas… quero que a tua companhia, me faça ser como tu”.


E fecha o caderno no momento exacto em que a folha seca de Outono, tentava modificar o seu pensamento. Será que no interior do silêncio e no escuro das páginas foi capaz de o fazer?


- Eu penso que sim.


… … … … … … … … …


ALBERTO DE CANAVEZES