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sábado, 12 de novembro de 2011

POEMA - INACABADO

Se hoje morre-se.


Ou fosse morto.


Porque o óbito mata a vida


Não queria sentir no meu silêncio


E frio do meu corpo nu.


Eu nasci desnudado.


E despido quero abalar.


Os passos da minha soror.


Não queria nem por sombras


Que depois da minha cinza


O vento e a brisa da manhã


Sentisse um quente suor


Que fizesse tremular


Uma lágrima minha


Que delata – se…


Uma cavada mágoa e vergonha.



Quero ouvir na voz do meu filho Tiago


“ De que cor é o vento!"


Enquanto não arder


Quero perscrutar


Nos olhos dos meus filhos orgulho


Mesmo no que neguei.


Fruto de um instinto e pouca racionalidade.


Eu sempre me dei bem com a verdade


Mesmo nos erros e omissões


Sem as denunciar em confissões


Mesmo quando era crente.


Agora que não creio em nada


Porque os católicos metem – me nojo


Vão há missa para lavar os pecados


E regressam dela…


Aptos a lá aparecerem sujos doutros mais


E numa roda-viva vivem nesta lavagem


Até se confundirem entre os animais!



Creio em algo que me transcende.


Recuso – me ter nascido só para morrer


Mas existe um rumo um caminho


Que eu jamais…


Doarei por nada


Sem comungar dele:


- A liberdade.


Não quero lá sentir o “umzinho”


Um pérfido déspota sem moral


Que se endeusou com a idade


Num poder gerado na ilusão da mentira


Eu morrerei a bem e sozinho


Desde que a sua doutrina


Se lembre como uma esquina


Que se dobrou


E que jaz num beco defunto


E depois desapareceu


Como se fosse o diabo que a levou.



Quando me matarem


Porque os dias contam para isso


Não deixem nem palha nem aresta


Por remexer nos meus papeis


Lá estão coisas que se espiam pela fresta


Como um casamento exige anéis.


Quem não se prepara para morrer


Nunca vive… nunca sente esse sorriso


É o mesmo que me julgarem


Sem ter um púlpito pró meu comício.



A morte fascina – me. E faz me perceber


A quanto a vida é justa. E a natureza é perfeita.


Algo me diz que vou expirar


Essa advertência está dentro de mim


Pertence – me. É uma epopeia


Que não sei explicar


Finjo que ao estar nessa odisseia


O faço sem que nada que diga: fim!



Quero ter uma assistência


… Reduzida proficiente e selecta.


Não quero lá cheirar o mofo dos protegidos


Quero que todos façam uma colecta


Para doar aos desprotegidos.


Existe muita lágrima que se vai chorar


Sem que seja justa ou sentida


São os objectores de consciência


No polígrafo da verdade invertida.



Sei que vou morrer


Não que me vá matar nem nada que o pareça


A natureza o fará ou alguém por ela o ditará


Desculpem – me a liberdade de a amar também


Amo ter nascido sem o pedir


Amo a vida que vou vivendo


Amo o seu caminho que vou fazendo


Amo o seu silêncio e ruído. Ámen.


Direi apenas que também


Sou gente e não serei ninguém


Fui Alguém!



Só morre para sempre: quem é cobarde


E não ama loucamente a liberdade!


… … … … … … … … … … … … … … … … …


ALBERTO DE CANAVEZES