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segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Uma Rosa prometida.

Como o prometi hoje fui levar, uma singela rosa, à sepultura onde descansa a Dona Adelaide. Um silêncio sepulcral, uma calma serena, uma paz espaçosa de almas num terreno sagrado. Não consegui calcular quantas paginas ali se guardam que são folhas do livro da minha vida. Mas a minha incumbência era denunciar perante todos os presentes o quanto amava a Dona Adelaide. Incomensuravelmente a vida deu-lhe como oferta de uma vida plena: cair de madura. Fez o percurso da vida como a natureza o faz, pretende e exige. Noventa e quatro anos. A descrição da sua vida nunca pode começar com a repetitiva frase: - “Era uma vez”. Tem que começar: Existe em nós uma história que nos fará lembrar para sempre, o era uma vez constante da nossa vida. A Dona Adelaide está sempre connosco porque só morre quem se omite a si próprio e nega aos outros as migalhas que constituem um pão. Ela reparte connosco a sua oportuna reminiscência e comportamento. A sua vida não é fugaz é imaculadamente eterna. Confesso que não consegui traduzir por lágrimas o desconforto que acalentava por não a acompanhar a tão ilustre casa. A casa da igualdade “perene”. Sentia-me seco. Oco. A morte é uma circunstância da vida. Traduz para mim, o quanto a vida é harmoniosa quando se cai de maduro. Tudo nasce, se cria e recria e morre. Para mim demonstra o quanto a natureza é perfeita. E a Dona Adelaide é grandíssima, em tudo isso. Não tenho, dúvidas que muitos que por lá estão se sentem felizes por tão ilustre companhia assim como outros não a merecem por companhia, sentem-se desconfortáveis. Eu não sou daqueles que quando determinado indivíduo morre os mede pela mesma bitola. Eu decifro-o pela sua campanha no reino dos vivos. E pela minha análise – que não sendo vinculativa à verdade – no seu silêncio mantenho o mesmo padrão de consciência. Eu não acredito no perdoar os pecados no último segundo da vida. A nossa presença na vida e perante ela tem que possuir um registo de juízos de valores que nos acompanha até ao nosso ponto final. É isso que eu quero que façam de mim quando chegar a tal arremesso para o reino dos mortos. Quero uma interpretação genuína e autêntica. Que sejam revistos e analisados os prós e os contra. Não que num uníssono hipócrita e ridículo me coloquem na redundância de ser verberado com epítetos que não mereço.



A Dona Adelaide está muito para lá de nós (de mim) na sua trajectória de vida. Merece ser perpetuada para todo o sempre. Recolham do seu nome uma mercê para a causa pública… Saberei ter por conhecimento que os meus netos a deslumbrarão como um exemplo de cidadania.


JORGE GONÇALVES